Ana Canosa

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Opinião

Quando se trata de fio-terra, Mariane se excita mais em dar do que receber

Mariane me disse, um tanto envergonhada, que tinha um fetiche. Como narrativas de preferências sexuais fazem parte do meu trabalho, eu disse que ela ficasse à vontade para me contar, se assim desejasse — "gosto de fazer fio-terra nos homens - isso me deixa muito excitada".

Inusitado, pensei. Não a prática, mas o prazer que ela pode suscitar em quem faz, não em quem recebe. Eu nunca havia escutado isso de uma mulher, como algo tão específico a gerar excitação. Perguntei o que lhe provocava tanto tesão e nos debruçamos sobre algumas possibilidades.

A primeira tem relação com uma sensação de dominação, como se deixar ser penetrado, mesmo que só por um indicador ou anular, tornasse aquele homem mais "passivo".

De fato, a penetração do orifício anal sempre ocupou esse lugar da subalternidade e isso tem relação com uma construção social que esbarra em questões de gênero. Mulheres, penetradas, homens a penetrar. Se a condição feminina de "penetrada" destinou historicamente um lugar de inferioridade as mulheres, um homem que goste de ser penetrado flerta com essa posição vulnerável e simbolicamente estaria destituído de seu poder fálico penetrativo.

Não é à toa que o fio-terra é a piada masculina mais comum para eleger uma possível "boiolice" dos adeptos — um contrassenso sem tamanho, pois orientação sexual é outra coisa. Muitos homens heterossexuais já passaram por essa desconstrução e sabem usufruir da posição de maneira lúdica.

Outro dia li um relato de um homem em uma plataforma online, que a mulher dele de vez em quando, evoca a dominadora dizendo: se prepare que hoje vou lhe usar. Ele então, prontamente faz a "chuca", depila o ânus e o oferece sem pestanejar. Outros homens estavam lá a reclamar que muitas mulheres não se arriscam nesse campo, o que é frustrante para eles.

Se mulheres podem gostar de estímulo no ânus, homens também, já que anatomicamente tem o mesmo orifício. Dizem até que na penetração anal os homens levam alguma vantagem, já que tem próstata e ela é envolvida por uma rede de feixes nervosos que, ao serem massageados pelo toque penetrativo, pode oferecer prazer adicional.

Vale ressaltar que, mesmo os homens que não se sentem ameaçados em sua masculinidade, podem recusar o estímulo por não gostarem das sensações, ou por que acessar a "porta dos fundos" lhes parece um tanto nojento.

Mas Mariane adicionou uma outra questão. O prazer que o fio-terra pode provocar nos homens, durante o sexo, lhe excita sobremaneira. Ela entende que, ainda mais quando um homem a está penetrando, o estímulo que seus dedos oferecem é um "plus" no tesão deles e ela gosta de vê-los gemer de prazer.

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É sabido que, quando temos mais de uma zona erógena sendo estimulada, ao mesmo tempo, a excitação tende mesmo a aumentar. E ter alguém gemendo de prazer também é deveras estimulante.

É possível que existam muitas Marianes por aí, guardando esse "segredo íntimo", com receio do julgamento alheio. Outras nem sabem dessa possibilidade, dado o susto dos parceiros quando aproximam os dedos ou a língua desse território que eles fazem proibido.

É a reação do "pula-pirata", associação com um antigo brinquedo infantil — e eu sempre dou risada quando lembro dessa imagem.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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