Nojo ou excitação? O que a tara de Victor por espinhas revela sobre o sexo
Victor tem 35 anos, é um sujeito comum, que trabalha, sai com amigos, gosta de viajar e praticar esportes. Atualmente, está solteiro e, ao menos uma vez por mês, sai com alguma mulher que encontra em apps de relacionamento em busca de bom papo e sexo casual.
Ele também transa com a Ana, uma "amiga com benefícios", que é bem parecida com ele. O sexo encaixa, mas nunca nutriu sentimentos românticos. Quando a agenda bate, eles se visitam, na intenção de um copo de vinho, uma atualização da vida, uma relação sexual e um filminho para fechar a noite.
Mas ele guarda um segredo que não compartilha com ninguém, por vergonha e medo de ser julgado: passa horas do dia assistindo a vídeos de pessoas espremendo espinhas ou furúnculos, o pus jorrando mais ou menos a depender do tamanho da inflamação.
Sinto o entusiasmo enquanto ele me conta: os olhos se abrem quase arregalados, a respiração acelera, aumenta o tom da voz, gesticula e a narrativa se estende para um dicionário médico, quase uma classificação dermatológica sobre os tipos de erupções cutâneas possíveis. E Victor não é o único: os vídeos de "pimple popping" acumulam milhões de visualizações nas redes sociais.
Para além de não sentir um pingo de nojo nas cenas, a excitabilidade lhe provoca ereção. Desde a primeira vez que isso aconteceu, ele passou a condicionar seu comportamento masturbatório: enquanto boa parte das pessoas assiste vídeo erótico de pessoas fazendo sexo, ele busca cenas de "espremeção" de espinhas, independente do rosto ou parte do corpo de quem as tem.
Pergunto se ele incluía o espremer espinha durante o sexo com alguém como motor para a sua excitação e ele diz que não é essencial, mas que já se ofereceu para tirar os cravos no nariz de Ana e ficou ali, bem uns 30 minutos entretido, se refastelando com a situação.
É interessante perceber como secreções que estão envolvidas nas relações sexuais de fato podem ser mais ou menos excitantes e, inclusive ter esse traço de preferência ou recusa.
Tem gente que ama cuspir na boca das parcerias, enquanto outras pessoas se incomodam com saliva, seja em beijo molhado, sexo oral ou linguadas no corpo.
Sêmen também pode provocar satisfação ou nojo. Há quem não se incomode com urina ou fezes, quem adore e quem nem chegue perto de práticas anais com nojo absoluto só de imaginar um "acidente" nessa área.
O nojo é uma emoção da natureza humana, explicada pela teoria evolucionista como uma reação de defesa, a fim de proteger as pessoas de ingerir ou tocar alimentos e coisas que poderiam provocar doenças. Há os mais nojentos, os menos nojentos e os que tem asco de coisas bem especificas.
Um estudo feito com dois grupos de pessoas — fãs e haters dos vídeos de pimple popping — publicado na Behavioral Brain Research demonstrou que os adeptos das imagens tem maior sensibilidade à sensação de recompensa, sentindo maior animação ao ver o pus saindo, em comparação aos que se sentem enojados.
Os exames feitos por ressonância magnética funcional também indicaram que o núcleo accumbens - uma região extremamente importante na percepção e regulação do prazer e a ilha - responsável pela sensibilidade e variação dos estados corporais como dor e temperatura - tem um aumento de conectividade o que pode explicar essa regulação que vai do nojo ao prazer.
É possível que a excitabilidade que Victor sente diante do pus tenha relação com sua função cerebral. Por não ser uma exclusividade para que se sinta atraído no jogo erótico — ele adora partes do corpo feminino e práticas sexuais mais usuais lhe dão prazer — seu "segredo" masturbatório parece não lhe prejudicar, excetuando o fato dele se sentir uma pessoa esquisita.
Digo a ele que, em se tratando de sexo, há uma grande variação de comportamentos e que a avaliação sobre as práticas e preferências está mais ligada ao prejuízo que elas provocam na pessoa e nos que estão à sua volta do que nas "esquisitices".
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