Só para procriar? Como deixar o sexo menos burocrático ao tentar engravidar
Se manter o desejo pela parceria em relacionamentos conjugais de longo prazo já é um desafio, a tentativa de engravidar que se extende por meses pode ser um adicional para o corta-tesão.
A relação sexual programada com foco na fertilidade tende a ser bem recebida pelos casais "tentantes" no início, mas se torna uma atividade burocrática e associada a ansiedade e frustração ao longo do tempo.
Ao desvincularem o prazer sexual da função procriadora, o sexo perde a espontaneidade, tornando a atividade sexual mecânica.
Quando o homem tem mais vontade de fazer sexo do que sua parceira, o convite para transar de 3 a 5 dias seguidos, cobrindo a janela de fertilidade feminina, é inicialmente comemorado. O problema é que essa frequência tende a cessar no restante do mês e ficar restrita ao período fértil.
Muitos homens passam a sentir que são meros "reprodutores", aumentando a sensação que não são verdadeiramente desejados por suas companheiras. Como a mulher passa a controlar quando o sexo vai acontecer, essa iniciativa vinculada ao desejo da gravidez se sobrepõe à vontade espontânea, mesmo que ela esteja presente no corpo feminino.
Outra questão que se apresenta é a tensão que se acumula durante meses seguidos onde a gravidez não acontece. A possibilidade de que algum dos dois tenha mais dificuldade para a fertilidade pode gerar medo, vergonha e mesmo rivalidade entre o par.
O encontro sexual, mês a mês, se torna uma atividade repleta de apreensão, que pode dificultar a entrega para o prazer e gerar ansiedade de desempenho, redução do desejo e disfunções sexuais, como a disfunção erétil em homens. Além disso, alguns estudos mostram que homens e mulheres podem experimentar sentimentos de inadequação, culpa e baixa autoestima.
Quando partem para técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro, outros agravantes se apresentam, como a necessidade de fornecer amostras de esperma em contextos programados e com baixa satisfação erótica, o que pode impactar negativamente a função sexual masculina.
Por sua vez, as mulheres que precisam tomar injeções hormonais com vistas a provocar a ovulação, reclamam dos efeitos em seus corpos e no seu estado de humor.
E depois de tentar - e conseguir?
Depois de uma longa trajetória de tentativa de gravidez, quando ela finalmente acontece, o sexo pode voltar de maneira espontânea, a depender de como a mulher se sente durante a gestação, pois embora a relação sexual seja proibida em condições muito especificas, muitas mulheres podem apresentar sintomas desconfortáveis, tornando-as menos disponíveis para a interação sexual.
Também é importante ressaltar que muitos homens têm dificuldade de fazer sexo com uma mulher grávida, pôr as colocarem no papel de uma entidade "santificada", dificultando a erotização.
O medo de aborto espontâneo pode ser ainda maior em casais tentantes, o que comumente provoca abstinência sexual.
Sabemos que após o nascimento, a relação sexual vai sendo nublada pelas novas demandas familiares e cuidados com o(s) bebê(s). Esse momento de menor atividade sexual é comum a todas as pessoas, mas quando a relação sexual já vinha comprometida com a baixa satisfação e com o sentido da obrigação, parece que o sexo fica registrado na memória do casal como uma atividade meramente burocrática.
Resgatar o erotismo nesses contextos é um trabalho que exigirá vontade de ambos e disponibilidade para que se crie um novo dicionário erótico, destacado da função meramente procriativa.
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