'Pedro voz de cachoeira' acendeu o tesão, mas hoje ela dança e goza sozinha
A Wilma veio me ver esses dias, trazer o panetone que faz em casa, com fermentação natural e me atualizar da vida. Estamos "juntas" desde quando tinha 57 anos e amargava um casamento infeliz, com o único homem que fez sexo e nenhum orgasmo para chamar de seu.
Foram no mínimo dois anos de psicoterapia para conseguir se separar, enfrentar a culpa pelo desejo do divórcio que o então marido fazia questão de transformar em desgraça familiar.
Quando finalmente saiu de casa e deixou para traz tradição e propriedade, passou a se sentir leve e renovada. Aos 61 anos, conheceu "Pedro voz de cachoeira", um sessentão sedutor que estava visitando o irmão no hospital. Ela estava tomando um café na lanchonete, quando ele puxou papo sobre a visita dela, uma tia em estado terminal.
Fazia tanto tempo que Wilma não se sentia paquerada que resolveu se entregar para a conversa sobre a vida, um tanto de lamúria sobre o envelhecimento e outro tanto sobre vivências, desejos e projetos.
Pedro era culto e galanteador e eles passaram algum tempo depois conversando pelo telefone. Wilma achava que Pedro tinha voz de locutor de rádio, e toda vez que ele ligava, ela ficava tão lubrificada, que um fio contínuo lhe escorria da vulva pelas coxas, e por isso passou a chamá-lo de "Pedro voz de cachoeira".
Foi assim que ela teve seu primeiro orgasmo sozinha, quando depois de uma conversa mais quente um pouco, ela decidiu se masturbar pela primeira vez em 60 e tantos anos. Gozou livremente, maravilhada pela explosão física, as pernas bambas, o sorriso banhado em lágrimas de alegria.
Encontrou Pedro algumas vezes, foram para o motel, mas embora o sexo fosse bom, ela não conseguia ter orgasmo com os estímulos genitais que ele lhe proporcionava.
Talvez estivesse hiper vigilante, sobre o que ele acharia da performance dela, de seu corpo já tão maduro, da sua falta de intimidade com outro pênis, que não fosse o do ex-marido. Não relaxava o suficiente.
A história com "Pedro voz de cachoeira" durou alguns meses, mas foi quando ele começou a dar indiretas que gostaria de morar com ela, que Wilma decidiu se afastar, justo agora que estava sozinha, em um apartamento aconchegante, não ia se dar trabalho com homem algum.
Ela tinha acabado de entrar em uma aula de dança de salão e estava entusiasmada com a retomada de uma liberdade corporal que não dava ares, desde a sua adolescência. Tinha se esquecido como era bom se deixar levar pela música, como o corpo podia ser flexível e fazer movimentos não convencionais. Suas pernas faziam múltiplos desenhos, os quadris desenhavam hipérboles perfeitas, os braços e a cabeça sempre em posições gentis.
Mas a vida dá muitas voltas. O ex-marido de Wilma descobriu uma doença crônica e, sem os filhos por perto - pois moravam fora do país - ela se viu obrigada a cuidar dele. Porém, a terapia a tinha ensinado reconhecer limites, preservar prazeres e estabelecer contornos, então ela conteve a ideia de se mudar para a casa onde havia dividido com ele décadas de vida em comum, para se limitar a acompanhá-lo em consultas para exames e tratamento e ajudar com algumas providências.
Preservado o seu direito ao prazer, nas aulas de dança conheceu Maurício, um homem de 49 anos, divertido e com uma malemolência sem precedentes. Não demorou para que do bolero à salsa, se tornassem o par mais afinado do grupo, os corpos se encaixando perfeitamente, ela se deixando levar pelos movimentos firmes e graciosos dele.
Acabaram na cama como uma extensão fluida do que já acontecia nos salões. Sem precisarem de nenhum esforço para fazer aconteceu o sexo, Wilma experimentou um foxtrot avassalador, um paso duplo estimulante e um cha-cha-chá de tirar o fôlego.
Descobriu que o prazer não tem idade e que a felicidade pode ser uma coreografia improvisada, mas perfeitamente afinada com os ritmos que pulsam dentro da alma.
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