Ana Canosa

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Opinião

Rotina acabou com o tesão após anos de casamento? Não para este casal

Ele saiu de manhãzinha para um bate-volta a trabalho. Acordar cedo - que ele odeia - aeroporto, calor, reunião, pegar o último voo que, embora curto, tem o acréscimo do pegar táxi para voltar para casa. Ela, que é ótima no planejamento diário, de fazer caber tudo na agenda, mandou uma mensagem avisando que ia preparar a banheira para que quando ele voltasse pudesse relaxar.

Ele gostou muito da ideia, ainda mais quando ela avisou que ia tirar um cochilo antes, a fim de se manter acordada para o desfrute. Sim, meus caros, esse casal tem uma diferença inconciliável: ela acorda e dorme com as galinhas - ele é uma coruja noturna.

Quantas vezes durante a semana ficaram menos conectados por isso, o sexo restrito aos finais de semana, pois quando ele tentava uma aproximação na madrugada, levava uma cotovelada na boca.

Mas foi depois de uma crise daquelas que quase os levou ao divórcio - será que esse casamento me faz feliz? - que os dois mudaram o que deu para encontrar tempo a se dedicarem um ao outro.

Foi um processo longo, sem certezas, intenso, mas que acabou fluindo, a vida se encaixando, as trocas voltando, o sexo acontecendo, as individualidades preservadas, o fortalecimento do projeto comum. Voltaram a tirar sarro um do outro, ao que parece, segundo pesquisas, um indicativo de intimidade e felicidade no relacionamento.

Naquele dia, ela se deitou as 20h e se levantou as 21h30, pouco antes de ele chegar em casa, um jeito de se manter viva até a meia-noite. Encheu a banheira e foi cuidar do que a noite ainda lhe reservava, uns e-mails para enviar, o cachorro para alimentar.

Quando ele chegou, não tinha uma cena montada, com ela nua, esbanjando sensualidade. Ela estava era um tanto sonada, de roupão, a cara amassada, resolvendo coisas no andar de baixo. Ele subiu. Deu 20 minutos e lhe enviou uma foto, já com o corpo amolecido, em meio a espuma, pedindo que ela não demorasse. Quando ela finalmente subiu, com uma taça de vinho na mão, avistou o cenário da meia luz no banheiro, a vela que ele acendeu, a playlist romântica sensual, o que lhe agradou o coração.

Ficaram ali naquela imersão de água quente, falando sobre o dia, os projetos, tocando com delicadeza o corpo um do outro, um carinho leve nas pernas, nos antebraços. Cantaram juntos a letra de várias músicas, enquanto relaxavam.

Não havia um tesão explosivo, a obrigatoriedade de fazer sexo, muito embora já estivessem há uns 5 dias sem transar.

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Ela dormindo com as galinhas, ele com as corujas, e as cotoveladas na boca. Tinha ali um tesãozinho em fogo brando, talvez fizessem sexo, talvez não, mas todo aquele momento estava para lá de gostoso, corpos e almas em comunhão.

O sexo aconteceu de forma intensa, começou na banheira, terminou na cama, ninguém nem esperava tanto. Aliás, foi por isso mesmo, a disposição de fazer acontecer o encontro e celebrá-lo, mais forte que a expectativa do sexo em si.

À meia-noite estavam abrindo o panetone que ia de presente para alguém - fazer o quê, precisavam fazer uma boquinha - escovar os dentes, dar uma espiada nas notícias, cada qual no seu celular, os pezinhos unidos debaixo das cobertas, um comentário, um videozinho de cachorro, desses engraçadinhos para rir.

Depois de 23 anos juntos, essa narrativa ordinária sobre a conquista dos espaços de prazer na vida cotidiana tem um valor inestimável - é lindo escutar e ver um casal longevo fazer acontecer.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

2 comentários

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Cláudio Messias

Da máxima: de que vale o ano ser novo se as pessoas continuam as mesmas? Mudar, sempre.

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Rerisson Jose Cipriano dos Santos

Legal...

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