Ana Canosa

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Opinião

Homem não pode mais gozar? Senador dos EUA choca e faz alerta pró-mulheres

Na última segunda (20), o senador norte-americano Bradford Blackmon apresentou um projeto de lei que, à primeira vista, parece saído de um roteiro de filme distópico: segundo a proposta, homens que não têm a intenção de fertilizar um óvulo seriam proibidos de realizar atividades sexuais.

Masturbação e sexo sem objetivo de procriação seriam, então, atos ilegais.

De acordo com a proposta, o descumprimento da lei resultaria em multas de US$ 1.000 em uma primeira infração, US$ 5.000 em uma segunda e US$ 10 mil em infrações subsequentes. Há, no entanto, exceções para ejaculações que tenham como finalidade a doação de esperma ou o uso contraceptivo.

Não foi no Brasil, mas eu não duvidaria de uma estapafúrdia proposta similar.

Naturalmente, a internet não se furtou aos comentários. Entre o choque e a diversão, as pessoas levantaram questões absolutamente pertinentes:

Como seria a fiscalização da ejaculação alheia? Haveria inspetores especializados? Um 'Departamento de Observação e Controle de Gozo'? Mulheres poderiam fiscalizar ou dedurar seus parceiros por uma ejaculada fora de contexto? Seria motivo para divórcio, flagrar uma punheta no banheiro? E os homens com ejaculação seca ou retrógrada, estariam automaticamente livres dessa regulação? Afinal, é no mínimo injusto que uns possam 'gozar' de liberdade enquanto outros se tornem alvo de vigilância estatal. Os memes praticamente se realizaram sozinhos.

Não é bem assim

Mas, é claro, nem tudo é tão literal quanto parece. A proposta de Blackmon não surgiu para ser levada a sério. O senador, na verdade, busca lançar luz sobre um tema urgente: a quantidade crescente de projetos de lei que visam controlar os corpos das mulheres, especialmente em temas como contracepção e aborto.

Ao inverter a lógica e sugerir a imposição de restrições ao corpo masculino, Blackmon desafia diretamente a sociedade a refletir sobre o impacto das legislações que violam o direito à liberdade feminina.

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Em suas redes sociais, ele esclareceu que a proposta também tinha como objetivo chamar os homens para o debate sobre contracepção, que sempre recai sobre as mulheres, mesmo eles sendo 50% da equação.

Bradford Blackmon é um político pouco conhecido fora de seu estado e conseguiu chamar a atenção para um ponto crucial: como reagimos quando o controle passa a mirar os homens? Sua abordagem irônica e subversiva é uma crítica poderosa às propostas que insistem em restringir as escolhas femininas, forçando, através do desconforto, a empatia que tantas vezes falta aos homens sobre a vivência de mulheres.

É fácil se dizer desconstruído, fazer posts sobre masculinidade saudável nas redes sociais: o difícil é encarar uma ação que pode ir contra a sua popularidade com aqueles com os quais você divide séculos de privilégios e adota um silêncio que visa garantir a hegemonia e a harmonia de um grupo.

Por outro lado, a proposta é tão absurda que pode ser rapidamente esquecida e não atingir o objetivo esperado.

Existem outras ações mais diretas para maior equidade nas responsabilidades contraceptivas em casais heterossexuais, como o desenvolvimento e a disponibilização de métodos contraceptivos masculinos, como pílulas ou injeções hormonais, que sejam seguros e reversíveis.

Alternativas inovadoras, como géis e bloqueios reversíveis dos canais deferentes, também podem ampliar as opções disponíveis para os homens, incentivando sua participação ativa no planejamento familiar.

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Paralelamente, investir na educação sexual que aborde a responsabilidade compartilhada na contracepção e em programas que promovam o diálogo sobre consentimento e a escolha conjunta de métodos contraceptivos, além de campanhas de conscientização, que fortaleçam a ideia de que a contracepção não é uma tarefa exclusiva das mulheres, mas sim um cuidado mútuo dentro do relacionamento.

Outro ponto seria garantir que os homens também tenham acesso facilitado a consultas médicas relacionadas à saúde sexual e contracepção e elaboração de políticas públicas que incentivam licenças parentais iguais, transformando a percepção de que a criação de filhos e a prevenção de gestações são responsabilidades femininas, promovendo uma visão mais equilibrada sobre esses temas.

Essas e outras ações podem transformar a forma como a sociedade enxerga e prática a responsabilidade compartilhada na atividade sexual, promovendo uma convivência mais equitativa e saudável.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

23 comentários

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Raimundo Almeida e Silva

parece absurda,mas deve ter Damares da vida,ou maltas da vida já pensado em uma proposta dessas.

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Edson Luiz Joia da Mota

De início fiquei estupefato com a proposta. Mas depois que entendi, achei maravilhosa a abordagem e surte o efeito proposto.

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Wagner Alexandre dos Santos

A proposta é tão absurda quanto as que tentam retirar os direitos sobre o corpo das mulheres. Infelizmente os EUA estão a caminho de alcançar a ficção sendo uma nova Gilead, embora o risco de se tornar o que  vimos na serie B Jericho fique cada vez maior. 

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