Ana Canosa

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Opinião

Ele não queria transar: falta de conversa pode ser o fim do relacionamento

Sofia sempre teve um olhar atento para Luciano no hospital onde trabalhavam. Eram olhares discretos, um jogo silencioso de interesse mútuo. O destino, no entanto, resolveu dar um empurrãozinho quando um amigo em comum os convidou para um jantar em casa, com mais quatro colegas.

Entre conversas fluídas e gostos compartilhados, a sintonia entre Sofia e Luciano ficou evidente. Dali para frente, começaram a sair juntos frequentemente. Foram mais de 32 encontros - sim, ela contou -, entre bares, restaurantes, teatros e exposições. Mas um detalhe inquietava Sofia: Luciano jamais tentava uma aproximação romântica, pegar nas mãos, tocar-lhe partes do corpo de forma desavisada ou beijá-la.

Ela começou a se perguntar se ele a via apenas como amiga. Será que ele não sentia atração por ela? Era um homem tão interessante e uma companhia tão agradável que ela decidiu continuar aproveitando os encontros, mesmo carregando consigo a ansiedade de quem deseja mais. O frio na barriga aumentava quando estavam lado a lado no cinema, mas nem mesmo um leve toque de pernas acontecia.

Mil pensamentos passaram por sua cabeça. Seria ele gay? Mas ela sabia que chamava atenção por onde passava - uma morena alta e imponente, de "arrasar quarteirões". A dúvida a corroía e ela não conseguia verbalizar seu incômodo.

A resposta veio de forma impulsiva e arrebatadora em um casamento de uma colega de trabalho. Entre taças de espumante e vinho, embalados pela música, Sofia decidiu acabar com o suspense e tacou-lhe um beijo. Para seu alívio e surpresa, Luciano correspondeu com intensidade. Naquele momento, eram o casal mais apaixonado da festa. Tomada pelo desejo, ela o convidou para dormir em sua casa, mas ele recusou com uma desculpa qualquer.

O episódio a deixou intrigada, mas ela preferiu esperar. Foi somente duas semanas depois que ele a convidou para sua casa. Quando saiu do banheiro de pijama, deu-lhe um beijo de boa noite e virou-se para dormir. Sofia aninhou-se nele, deslizando as mãos por seu corpo, mas Luciano ficou rígido como uma estátua, sem reagir. Fingiu estar dormindo.

A frustração e a dúvida a consumiam. Após quatro meses de envolvimento, ela não conseguiu mais conter sua inquietação e perguntou diretamente o que estava acontecendo. Havia feito alguma promessa? Só faria sexo depois do casamento? Tinha um pênis pequeno?

Foi então que veio a revelação: Luciano havia passado por uma prostatectomia - a retirada da próstata - há menos de um ano e enfrentava dificuldades para ter ereção. O medo de falhar, de ser rejeitado, o fez esconder esse fato por todo esse tempo. Sofia ficou em silêncio por um instante. Embora gostasse de penetração, sentiu um certo alívio. O problema não era ela. Mas agora já estava apaixonada.

A cirurgia de retirada da próstata, comum em casos de câncer, pode afetar os nervos responsáveis pela ereção. Para alguns homens, a função erétil retorna em até um ano. Outros podem precisar de tratamentos como medicamentos, injeções penianas, terapia de ondas de choque ou até próteses penianas. A recuperação varia de acordo com fatores como idade, saúde geral e técnicas utilizadas na cirurgia.

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Sofia percebeu que, se Luciano tivesse sido transparente desde o início, eles poderiam ter lidado juntos com a questão. Comunicação e honestidade teriam sido as melhores escolhas. Evitar o assunto apenas gerou ansiedade e dúvidas desnecessárias.

No fim, amar também é saber compartilhar as vulnerabilidades, confiar que o outro pode lidar com elas e seguir juntos, independentemente dos desafios.

Ela vive um misto de compaixão e ressentimento, porque embora compreenda as dificuldades de um homem de sua geração com o tema, também acha que ele usou de uma estratégia pouco honesta ao envolvê-la emocionalmente sem ser claro com suas intenções.

Ela gosta de sexo e eles têm conseguido ter relações, embora a ereção não seja rígida. Mas tem o sexo oral, o carinho, a masturbação. Outras pessoas fazem o mesmo caminho que Luciano, evitando o sexo a qualquer custo, para não serem confrontados com suas dificuldades, o que nunca é a melhor escolha para a satisfação sexual pessoal e de um casal.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

6 comentários

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Walmor Barbosa Martins Jr

Não existe HOMEM impotente. O que existe são as INCOMPETENTES.

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Marcos Akila Jo

Faltou sinceridade em expor o problema

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Argemiro Ferreira da Silva Filho

Só li o começo.. Resultado não gosta da FRUTA...

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