Parceria emagreceu? Como perda de peso pode afetar o relacionamento amoroso
Ler resumo da notícia
A perda de peso é frequentemente associada à melhora da autoestima e da saúde, mas raramente se discute como essa transformação pode afetar um relacionamento amoroso. O emagrecimento, especialmente quando ocorre de forma significativa e rápida, pode ser um divisor de águas na dinâmica de um casal, tanto do ponto de vista emocional quanto sexual.
Quando alguém perde peso, a sociedade tende a celebrar a transformação como uma vitória pessoal. Amigos e familiares elogiam a nova silhueta, reforçando a ideia de que a mudança física é sempre positiva. No entanto, o que pouco se discute é o impacto que essa nova configuração corporal tem na parceria.
Se, por um lado, a pessoa que emagrece pode se sentir mais confiante e empoderada, por outro, seu parceiro ou parceira pode enfrentar um turbilhão de sentimentos inesperados: desde o estranhamento até um luto pelo corpo anterior, que transmitia uma espécie de "conforto e acolhimento".
Claro que uma silhueta mais magra também pode ser um lugar seguro, pensando na subjetividade do afeto, mas os corpos mais "cheios" dão essa impressão de um abraço "de urso/a" e há quem diga que o transbordamento das dobras, das mamas fartas, do peito cheio, da barriga mais proeminente promove uma sensação de abundância, onde o prazer se encontra ali, nos excessos. Os que se atraem por pessoas cheinhas afirmam com veemência que elas são ótimas amantes, mas penso que não há como generalizar.
A jornalista Lisa Miller, em seu artigo recente para o New York Times, trouxe à tona esse tema pouco debatido: como o emagrecimento pode alterar a percepção da sexualidade dentro de um relacionamento.
Ela descreve o caso de Jeanne e Javier, um casal que enfrentou desafios inesperados após a perda de peso significativa dela, ilustrando essa complexidade. Javier sentia falta da suavidade do corpo da esposa, do seu volume, da sensação de aconchego que ele associava ao toque dela. Ele não desejava um corpo magro; ele desejava o corpo que conhecia há anos, o corpo que fazia parte da intimidade e do prazer compartilhado.
Além disso, a própria Jeanne passou a se enxergar de forma diferente. Seu corpo magro, que deveria ser um símbolo de libertação e felicidade, se tornou um território desconhecido. Esse fenômeno não é incomum. O cérebro leva tempo para reconhecer um corpo transformado, e muitas pessoas relatam uma sensação de "desconexão" com a nova aparência. Essa mudança pode afetar a libido, o prazer e até mesmo a forma como a pessoa se relaciona com a parceria.
Outro fator importante apontado por Lisa —no que concordo com ela— é que a sexualidade dentro do relacionamento é construída também a partir de rotinas e hábitos compartilhados. O casal pode ter desenvolvido uma forma de se tocar, se abraçar, se encaixar — e, de repente, tudo isso muda. O que antes era intuitivo precisa ser reaprendido. Algumas pessoas podem se adaptar rapidamente, enquanto outras precisam de tempo para redescobrir a atração e a intimidade sob novas condições.
O caso de Jeanne e Javier reflete um padrão observado em estudos sobre a relação entre perda de peso e estabilidade conjugal. Pesquisas indicam que mudanças significativas no corpo podem alterar a dinâmica da relação, levando alguns casais a se fortalecerem e outros a enfrentarem crises sérias. O emagrecimento pode ser um catalisador para questionamentos profundos: ainda somos atraídos um pelo outro? Como redefinir nosso desejo? Qual era o papel do corpo antigo na nossa conexão?
Até uma certa inveja da capacidade de mudança corporal pode aparecer e conviver lado a lado com a admiração —ainda mais se a pessoa que mantém seu padrão corporal também não está satisfeita com ele. Vale lembrar que essa quebra da dinâmica relacional pode ser positiva para que se estabeleça uma relação mais "saudável" e equilibrada.
Imaginem uma pessoa com sobrepeso, que se sente "inferior" diante da parceria. A parceria, ao perceber essa insegurança, manipula para se manter em destaque. Com a perda do peso, a parceria passa a criticar o "novo corpo" ou outras características para manter o par na insegurança. Portanto relações tóxicas e/ou abusivas podem ser reveladas pela (não) aceitação dos corpos.
Diante desse cenário, o diálogo e a paciência são essenciais. Nenhuma transformação física acontece no vácuo —ela tem consequências psicológicas, emocionais e, claro, sexuais. Abrir espaço para conversas honestas sobre desejos, inseguranças e novas formas de conexão pode ser a chave para que a relação se ajuste à nova realidade. Médicos de emagrecimento precisam alertar seus/as pacientes sobre essa possível desestabilização na dinâmica conjugal.
A sexualidade é dinâmica e vai além da aparência. O corpo muda ao longo da vida, e a intimidade precisa acompanhar essas mudanças para continuar sendo fonte de prazer e conexão. Se o emagrecimento pode ser libertador para um indivíduo, ele também pode ser um desafio para o casal. Reconhecer isso é o primeiro passo para transformar essa transição em um processo de redescoberta e não de distanciamento.
1 comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.
Igal Flint
Os dois devem procurar emagrecer, com saúde, sempre.