Crianças: moda tem a ver com educação?
Chega outubro, a gente já sabe. É o "mês das crianças". Eu, particularmente, fico atenta e celebro a alegria das existências infantis desde setembro, mês dos erês, dos ibejis, de Cosme e Damião. E, nesta coluna que procura refletir a moda a partir de lugares pouco "acessados", minha proposta hoje é começar perguntando: você já parou pra pensar que a moda pode ser uma ferramenta de educação e diálogo entre adultos e crianças?
Falar com as crianças ou sobre as crianças é sempre estar com um olho no agora e outro lá na frente, no futuro. Tudo que a gente constrói com elas chegará no futuro transformado - ou não. O que será que a gente pode evoluir ou perpetuar a partir de como a gente se relaciona com as crianças do nosso convívio? Sejam nossos filhos, sobrinhos, filhos de amigos, etc? Estar com crianças é atuar direta e praticamente no futuro.
Assim como todo mundo, a gente veste as crianças, certo? Desde pequena, as escolhas que fazemos são determinantes sociais importantes. É também através das roupas que apresentamos a criança ao mundo. Nesse sentido, cabe e é fundamental dizer que fazemos escolhas por elas e, por vezes, já impomos a elas padrões sociais. De gênero, por exemplo.
Conforme elas vão crescendo, dão informações muito importantes sobre si por meio do que vestem. Primeiro sutis e, a partir do que elas recebem de seus cuidadores e do mundo, informações bem diretas mesmo, do que é bom pra elas, do que funciona, do que é adequado, do que elas gostam, do que não gostam.
As crianças começam muito cedo a questionar suas roupas. E se ficarmos bem atentes a isso, entendemos que elas estão, na verdade, questionando o mundo delas. Quando ela escolhe se quer ou não usar aquela peça de roupa, se quer usar uma peça porque se sente feliz, protegida ou se em um dia determinado quer usar uma cor específica. Dá pra perceber e saber muitas coisas sobre as subjetividades da criança e seu olhar para o mundo a partir das escolhas que ela faz neste sentido.
Por exemplo, quando uma criança diz que se sente mais bonita com uma determinada roupa, a gente pode perceber qual é o caminho dessa referência. Se é positiva ou não, saudável ou não. Será que já conversamos com nossas crianças sobre como uma roupa vira roupa, por exemplo? São muitos diálogos possíveis.
Penso ser muito importante estimular a relação da criança com a moda desde cedo. A gente tem um preconceito de que falar de moda é falar de futilidade, mas isso depende de quais diálogos a gente quer construir com elas - e com qualquer pessoa - a partir da moda! Se estamos sempre falando que moda é consciência e autoconhecimento, que seja também para as crianças. E isso não é apenas sobre "ah, meu filho escolhe as roupas que quer". As crianças têm que ter autonomia, claro, mas é importante, sim, estarem sob tutela e orientação dos cuidadores. E tudo isso se transforma num vetor de comunicação, um caminho para o entendimento do quem são estas crianças, o que será que elas querem do mundo e delas mesmas.
Podemos dar subsídios para que, através da moda, as crianças se conheçam, gostem do próprio corpo a partir da ação de se vestir, saibam que cresceram, o que isso significa e várias outras coisas. Podemos, a partir da moda, propor que explorem as questões de gênero, orientações e preferências diversas. Um armário de possibilidades infinitas de expressões do que aquele pequeno indivíduo pode ser ou como pode estar.
Talvez eu seja muito apaixonada por moda, mas acredito de verdade que ela é uma ferramenta extraordinária para a educação, para o autoconhecimento, para o fortalecimento de identidades. Uma ferramenta fundamental para somar na criação de futuros adultos seguros de si e conscientes do mundo em que vivem.
Já tinha pensado nisso?
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