O que acontece quando uma marca de maquiagem ousa ser diversa de verdade
Em minhas redes sociais, assim como no espaço que tenho aqui em Universa, falo sobre coisas que atravessam a minha existência, coisas que são importantes para alimentar o meu bem-viver, a minha autoestima.
Quando comecei a produzir conteúdo para internet, não imaginei que seria tão forte a presença da beleza neste lugar. Hoje, falar sobre a relação da maquiagem com tons de pele como o meu, estimular reflexões sobre colorismo nas pessoas que me seguem - e também nas marcas com as quais me relaciono - tem sido uma das coisas mais importantes nessa trajetória.
Falar sobre beleza e estética está longe de ser algo "fútil", como algumas pessoas gostam de pensar, principalmente se o assunto é beleza negra, beleza preta. Sabe por quê? Porque o corpo negro, historicamente, não pertenceu aos espaços onde os imaginários de beleza são construídos.
Se hoje uma mulher como eu protagoniza junto com outras mulheres negras e pretas maravilhosas a campanha de uma das maiores marcas de beleza do mundo, é sim graças ao trabalho incansável das mulheres que, antes de mim, precisaram criar, sozinhas, a noção de que elas eram, sim, bonitas.
Histórias como a da Maria do Carmo, que criou a Muene Cosméticos, marca com mais de 30 anos de história, a primeira a desenvolver produtos para pele negra no país.
Quando eu vejo uma marca como a Avon preparar uma ação como a de que eu participei, repleta de encontros afetuosos entre mulheres negras, apresentação de uma pesquisa com dados importantes sobre a realidade de desejo e consumo de produtos de beleza em todo o país, com recorte racial, acho sim emocionante, porque revela que os nossos passos, que vêm de longe, seguem desbravando territórios e criando pontes que nos levam a uma sociedade mais equânime e inclusiva.
A pesquisa, na real, é corajosa porque expõe as fragilidades do setor em que a marca mesmo se insere - e também se propõe, é claro, a fazer diferente a partir de agora o que eu comemoro e acho importante ecoar.
Vejam algumas coisas que me saltaram aos olhos: 46% das mulheres negras desistem de comprar make porque não encontram produtos no seu tom; mais de 30% delas compram vários tons porque precisam fazer "misturinhas" para chegar ao seu tom de pele; mais de 70% gostaria que as vendedoras de make entendessem melhor a sua pele.
Estamos falando de mulheres que movimentam mais de R$ 700 bilhões por ano na economia brasileira e que já revelaram em várias pesquisas que consumiriam muito mais não fossem todos os entraves de reconhecimento e pertencimento nos diferentes produtos e serviços.
Ignorar um montante financeiro deste além, é claro, de uma possibilidade de associar ao seu valor de marca a reputação de inclusão e diversidade, me parece uma inabilidade estratégica das marcas que querem dialogar com consumidores de hoje e de amanhã.
É importante sim quando uma marca de beleza atualiza a diversidade cromática de seus tons de base, ampliando a sua linha de forma impactante. É ainda mais importante quando uma marca compreende que, para além disso, há muitas outras coisas a fazer e, junto com o aspecto comercial, divulga um compromisso antirracista, apresentando e se comprometendo a cumprir metas de ampliação de empregabilidade de pessoas negras em seus quadros, sobretudo de liderança; acelerar inovação de produtos para este público, ampliar as vozes de mulheres negras em todas as suas redes de relacionamento, e não apenas na comunicação; entre outras.
Não é segredo pra ninguém que eu trabalho com marcas, com publicidade. E eu comecei tudo isso porque sim, eu queria que mulheres como eu também estivessem nestes espaços. Porque isso é importante, porque isso constrói imaginários de beleza diferentes e mais diversos do que eu tive a oportunidade de criar ao longo dos meus 32 anos. E isso é potente, muito potente.
Que a Avon seja um farol para outras marcas, de beleza e outros segmentos. Provoquem-se, pesquisem suas áreas de atuação. Ousem reescrever suas histórias. Ousem serem diversas de fato.
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