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Ana Paula Xongani

Natal: Qual será o impacto do isolamento social no nosso ato de presentear?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

17/12/2020 04h00

No início de 2020, eu tinha muitos desejos. Um deles era, em vez de comprar presentes para as pessoas queridas, fazê-los a mão. Uma forma de imprimir muito da minha personalidade e da minha relação com cada pessoa presenteada.

No entanto, como tudo, esse projeto foi alterado ou revisto pela pandemia e pelo isolamento social a que todes fomos submetidos. Sair de casa deixou de ser uma opção por muito tempo, ir às lojas comprar materiais também. Entregar, encontrar as pessoas não foi algo possível durante 2020.

Esse desejo surgiu em meados do ano anterior, quando comecei a perceber o quanto a gente perdeu totalmente parte do nosso fazer manual —e do nosso presentear a partir do fazer manual. E essa perda até me parece uma contradição em algum nível, pois temos estado numa crescente do reconhecimento da beleza destes fazeres.

Mas sabe o que pega? A gente ama almofada de crochê, mas compra a almofada de crochê da loja de shopping. A gente ama o macramê, mas compra aquele que vende na loja de departamento de decoração. A gente ama blusa de tricô, mas aquela da fast fashion.

Na pandemia, esse desejo, que nascera antes dela, ganhou outras nuances. Durante o isolamento, a gente pensou, criou e recriou formas de se encontrar com as pessoas. Falou-se muito sobre conexões e afeto, certamente uma das grandes pautas deste ano. Sobre como fazer da convivência intensa consigo —e com o outro— algo proveitoso, bonito e leve.

Penso que isso transformou nossa percepção sobre as relações pra sempre. E penso também que isso terá impacto em um dos momentos em que a gente mais para para rever e se reconectar com os afetos: o Natal. A pandemia certamente estará refletida nesta celebração, que faz parte de nossa cultura de uma forma bem bonita e importante.

Considerando a chegada do Natal, considerando um ano financeiramente complicado para muitas pessoas e considerando também um período em que nunca tivemos tanta oportunidade de nos conectar com a ideia de "faça você mesmo", que tal cruzar tudo isso para presentear quem a gente ama?

Que tal pensarmos em consumir mais o que é feito com tempo, com calma, criando alternativas que impulsionem novas formas de se relacionar neste "outro normal" que se desenha?

Na pandemia, muita gente se conectou com habilidades manuais. Teve gente que começou a bordar, gente que começou a pintar, gente que começou a escrever, gente que começou a gravar video. E cada uma destas coisas pode ser um presente. Um presente que combina afeto e consumo consciente.

Eu, por exemplo, comecei a pintar na pandemia e isso vai se tornar presente. E estes fazeres podem ser vários. Desde a almofada até o tie-dye, uma técnica ancestral, de origens africanas e asiáticas, que todo mundo fez durante a pandemia. Já parou pra pensar por quê? É manual, é faça você mesmo, é imprimir a gente na blusa que a gente vai vestir ou dar pra alguém vestir.

Na internet, tem uma explosão de conteúdos que estimulam a cultura maker. É só buscar, primeiro dentro de você, quais os sentimentos, intenções e sensações você quer compartilhar com as pessoas que deseja presentear. Aí, pensar em produtos que se relacionem com isso e, então, procurar estes conteúdos que te ajudem a produzi-los. Certamente você vai encontrar e fazer um presente incrível.

Bora?