Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O esporte ensina que "atlético" também é adjetivo para um corpo gordo
O mês de julho começa com os olhares direcionados aos Jogos Olímpicos de Tóquio, que aconteceriam no ano passado e foram adiados em razão da pandemia. Atletas, comissões técnicas e jornalistas de todo o mundo vacinados se reunirão, seguindo todos os protocolos, para a realização do maior evento esportivo do mundo.
Sempre enxerguei os atletas como super-humanos, ainda mais nas Olimpíadas, com quebra dos mais variados recordes a cada competição. Via corpos ágeis, fortes, superfuncionais.
Os corpos 'atléticos' sempre foram, dentro dos padrões de beleza e perfeição a que somos submetidas, lugares de referência. Então, quando pensamos nas discussões sobre corpo e vemos estruturas com 0% de gordura no esporte, é mais um reforço deste ideal estipulado
É difícil desconstruir essa ideia quando estamos, ao mesmo tempo, idolatrando o atletismo, a musculatura, a beleza desses esportistas. Se eu fosse relacionar com com a moda, diria que o esporte também é uma passarela, uma grande vitrine. Quando falamos de estilos na moda, o estilo "esportista" é um dos que estão sempre em pauta, e a construção dessa estética acontece nos espaços olímpicos e esportivos.
Portanto, imagino e vivo constantemente pensando que o corpo gordo ou o corpo não-magro não se adequa ao estilo esportista.
Por isso, achei incrível o especial "Corpo de Atleta", iniciativa do UOL Esporte que conta a história de cinco atletas olímpicos. Eles falam sobre gordofobia e explicam como aceitaram seus corpos ao perceberem que são incríveis justamente porque são gordos. Ainda há uma série de fotos, feitas pelo fotógrafo JR Duran, e um manifesto antigordofobia, reforçando que corpos são instrumentos de resistência e de vitória.
Além da importante transgressão das ideias relacionadas à forma física, também nos entrega novos lugares na moda e no estilo esportista, incorporando a beleza que existe na pluralidade.
Neste sentido, aproveito para saudar todas as pessoas, sobretudo mulheres, de movimentos como o Corpo Livre, body positive e ativismo gordo. Sigo várias, mas fazendo link com o esporte, destaco Ellen Valias, do ativismo gordo. Ela é a @atleta_de_peso, primeira que vi abordando o esporte como uma prática positiva, sem associações de punição ou emagrecimento. Ela, que também acaba de estrear uma coluna no UOL Olimpíadas, reproduz vídeos de pessoas consideradas atléticas com o corpo dela, criando um imaginário positivo para corpos gordos.
O esporte também pode e deve pertencer às pessoas gordas e fora dos "padrões sociais"
Fica o meu convite para assistirmos às competições e tentarmos construir novas referências para as formas atléticas.
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