Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
bell hooks e a audácia de uma pedagogia amorosa
a coluna de hoje é uma homenagem. bell hooks, autora, professora, teórica feminista e ativista antirracista fez sua passagem na quarta-feira (15), aos 69 anos.
recebo esta notícia com um misto de sentimentos, claro, e o mais forte deles é a emoção de ter tido a oportunidade de ser contemporânea de uma mulher como ela, que se propôs não apenas a estruturar seus saberes, mas também a compartilhar com a gente a sua pedagogia amorosa paulofreiriana, como disse carla akotirene em seu instagram.
de tudo o que acessei e absorvi da obra dela, são duas coisas as que mais me impactam. uma delas é sua relação com a literatura infantil e a outra é a forma como o amor atravessa o fazer literário dela, as escolhas que ela fez para imbricar o amor e o afeto às questões sociais, que são os pilares de tudo o que ela produziu.
fico emocionada com a ideia, a vontade e a realização em torno da literatura infantil, porque a gente, que é ativista, deixa escapar muito o olhar para a beleza das coisas numa perspectiva do encantamento, sabe? então imagino que exercitar a escrita para uma criança é cuidar muito deste lugar.
como meu caminho cruzou com o de bell hooks
foi também neste lugar que nos cruzamos, bell hooks e eu. pra mim, foi uma satisfação imensa ter participado do projeto de lançamento no brasil do livro "happy to be nappy", ou, como chegou aqui, "meu crespo é de rainha" (boitatá, 2018), escrevendo o texto da contracapa. trata-se de um livro lindo e fundamental que exalta, para as crianças, a beleza e pluralidade do cabelo crespo.
ela revelou, em várias entrevistas, que o amor é o "seu tema favorito". ela ia na contramão daqueles que colocam o amor num lugar do "não-racional" e dizia que "o amor é mais do que um sentimento. é uma ação capaz de transformar o niilismo, a ganância e a obsessão pelo poder que dominam a cultura". para ela, amar sempre foi um ato político.
e que importância gigante é a gente ter como uma das referências máximas uma mulher preta debatendo as questões a partir do prisma do amor, do afeto. não tem tamanho a importância disso.
pra mim, termos a possibilidade de testemunharmos a vida de bell hooks e sua passagem deixa um sentimento que não é exatamente uma tristeza. é tipo: "que sorte a nossa!" e "que bom ela ter sido celebrada e reconhecida em vida".
hoje eu tenho certeza de que vim para este mundo com um projeto de liberdade, de conexão de amor. existem lutas e lutas e eu não desqualifico nenhuma. mas a minha é amorosa, feita de ativismo afetivo. e, certamente, bell hooks é uma grande inspiração nesse sentido.
que nós, que seguimos por aqui, saibamos honrar a vida desta mulher.
ps: esse texto foi todo escrito em letras minúsculas em homenagem a bell hooks (pseudônimo de gloria jean watkins), que assinava seu nome dessa forma.
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