Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Quantos negócios de mulheres LGBTQIAP+ você fortalece?
Na última semana, acompanhei o "Contaí - Mulheres LGBTQIAP+ Unidas Fazendo Negócios", que rolou no auditório do MASP, em São Paulo. Realizado pela agência nhaí, liderada pela cantora e empresária Raquel Virgínia, o encontro nasceu com objetivo de promover pontes e diálogos entre empreendedoras, aliadas, mercado, investidores e consumidores, a partir da percepção de que não existem eventos de negócios voltados exclusivamente para este público.
Foi muito importante me deslocar para esse evento. Primeiro porque para mim é fundamental, como aliada, fortalecer as realizações LGBTQIAP+, principalmente quando ele intersecciona com empreendedorismo, assunto que me interessa muito, afinal tô aí multiempresária empreendedora há 14 anos.
Foram várias mesas de conversas, mas destaco a que rolou sobre "empreendedorismo periférico, inovação e criatividade", que até se relaciona com uma coluna que já trouxe aqui sobre o quanto a periferia pratica desde sempre a sustentabilidade.
Tive a oportunidade de ouvir a Ana Claudia, do Quintal Aleatório, que é uma feira cultural que promove que a periferia consuma da própria periferia e que rola na zona leste de São Paulo, capital, região amada que nasci, cresci, moro até hoje e onde comecei a empreender. Muito amor envolvido.
Achei essa pauta f*da, espetacular mesmo. Primeiro porque estou falando de uma jovem mulher, de 26 anos, que já transcendeu o lugar comum que muitos experts do mercado insistem em colocar a população das margens das cidades: a velha discussão se a periferia consome ou não. E ela trouxe a discussão não para um olhar externo, mas para um olhar interno. Papo reto! De dentro da periferia para dentro da periferia. O que ela está dizendo é que a periferia consome sim, mas que o desafio agora é fazer a periferia consumir de si.
Quando a gente vai nos bailes e nas festas da periferia, as grandes marcas estão super presentes nas roupas, calçados, acessórios e tudo mais. Investimento alto. E é aí que esse desafio se coloca e quando ela cria o Quintal, a ideia é fomentar que a periferia comece a encontrar, entender e identificar valor no que é produzido lá. Eu achei essa visão importante demais! Sobretudo na galera de faixa etária similar a dela.
Nesse mesmo papo, a Jêniffer de Paula, da Omisoro, complementou que os empreendedores das periferias "produzem para fora e trazem de fora pra dentro". Entendo que, nesse movimento, a gente acaba novamente perdendo a potência de construir a partir da necessidade, e dos desejos, e das belezas que acontecem nos territórios periféricos que, na verdade, são os centros de si.
E, assim, a gente pode até fazer esse intercâmbio com os produtos "de fora", né?! Claro! Mas é essencial não perder de vista reflexões importantes sobre como e a partir de quais estruturas estes desejos se constroem. Porque enxergamos valor ao que damos valor? Saca?
Eu mesma, na plateia, me senti bastante provocada neste lugar. E, pensando sobre isso, cheguei na comunicação que a gente faz —ou não faz— enquanto empreendedores da periferia. É também com a força da comunicação que se conta e se constrói o que é importante, o que é valioso. É na comunicação que podemos estabelecer boa parte dos parâmetros que nos impeçam de criar ambientes de cegueira do que está próximo para ver apenas o que está distante.
No ápice, a Ana Cláudia comentou que a dica que ela gostaria de dar para as empreendedoras era bem clichê: "Não desistir". Ao que a Jêniffer amarrou perfeitamente! "Desistir é clichê para os outros, mas para pessoas como nós, falar isso não é clichê, porque são novas vozes dizendo as coisas, e pessoas finalmente escutando coisas dessas novas vozes".
É sobre.
Não desistamos!
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