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Andrea Dip

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quem mais vai sofrer caso as ameaças de golpe no Brasil se concretizem?

Faixa em inglês exibida durante manifestação pede golpe militar com Bolsonaro no poder  - Mathilde Missioneiro/Folhapress
Faixa em inglês exibida durante manifestação pede golpe militar com Bolsonaro no poder Imagem: Mathilde Missioneiro/Folhapress

Colunista do UOL

30/09/2022 04h00

Estamos a dois dias do primeiro turno das eleições mais importantes dos últimos anos no Brasil. Há quem diga, inclusive, que é a eleição mais importante desde a redemocratização do país porque, além de temas essenciais como fome, educação, saúde, emprego, a crise econômica, social e política, o que está em jogo neste momento é a democracia em si. O combate a um plano neofascista em curso.

Os projetos de governo e de poder dos principais candidatos à presidência são opostos em sua essência. Apoiar um ou outro diz muito sobre nossa visão de mundo, de vida, sobre nossos privilégios e afetos. Mas também há muito ruído e notícias falsas plantados para confundir eleitores.

Acusações irreais como a sexualização de crianças ou a implementação do comunismo no país, o fechamento de templos religiosos ou uma suposta "doutrinação marxista", a farsa da "ideologia de gênero", a distribuição de mamadeiras em formato de pênis em escolas públicas e até o questionamento da legitimidade das urnas eletrônicas retornaram com força total neste período de campanha. Ameaças de golpe pairam sobre nós que assistimos à ascensão de um neofascismo. E adivinha quem sofre mais em tempos difíceis? Quando não há emprego para todos, quando não há cuidado suficiente, quando não há tolerância, humanidade?

A filósofa francesa Simone de Beauvoir uma vez disse: "Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida".

Sim. Os primeiros direitos a serem saqueados, questionados ou destituídos são os nossos. Talvez por isso mesmo sejamos a resistência mais forte e poderosa contra projetos autoritários, fascistas, machistas, intolerantes, racistas e de desmonte do país. Neste momento, precisamos entender nosso papel como frente de resistência a um projeto de morte. E para isso acontecer, precisamos garantir o acesso a fontes verdadeiras e confiáveis de informação. Pesquisar, nos informar, duvidar do que nos dizem, mesmo aqueles mais próximos que também podem estar sendo enganados.

Precisamos nos perguntar: "de onde saiu essa informação?" Ler os projetos de governo, as propostas, comparar para além dos discursos, as práticas de cada um. E isso não apenas com relação às candidaturas presidenciais, mas às de deputados federais, estaduais, senadores e governadores. E não somente nesta eleição, mas sempre. Porque no nosso atual sistema político o presidente faz muito pouco sem o Congresso e vice-versa.

Há 16 dias das eleições, pesquisas apontavam que 69% dos eleitores ainda não haviam decidido em quem votariam para deputado federal e 70% não sabiam em quem votar a deputado estadual. Isso é muito significativo porque, além de projetos de leis, políticas públicas, orçamentos, as casas legislativas federais têm o poder inclusive de destituir o presidente. Basta lembrarmos o que foi feito com a presidente Dilma Rousseff. Sobre a importância dos governadores, recordemos quem lutou contra e quem garantiu a vacinação contra a covid-19. E não nos esqueçamos dos mais de 600 mil que não estarão presentes na votação de domingo.

Parlamentares comprometidos com o combate à fome, a valorização da cultura, o cuidado com o meio ambiente, que estejam preocupados com a emergência climática, com os povos indígenas, com a preservação da Amazônia, com direitos dos trabalhadores, com políticas públicas de combate à violência de gênero e de acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade, que não sejam negacionistas, candidatas e candidatos que possam realmente nos representar nas casas legislativas e que não rifem essas pautas em troca de apoio, verbas, poder e trocas de interesse serão essenciais para essa nova legislatura funcionar bem.

Na última semana eu entrevistei um pastor evangélico candidato a deputado estadual que me disse: "Meus fiéis votam em quem eu mandar votar. Muitas vezes eles nem sabem quem é o candidato, nunca ouviram falar, mas votam porque confiam em mim. E em contrapartida eu cobro desses candidatos favores e benefícios". Gostaria de acreditar que esse pastor está equivocado. Que ele assume um poder que não tem. Que seus fiéis não são massa de manobra política.

Que nessas eleições a gente vote com lucidez, autonomia, olhos abertos e com o coração sem medo.