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Andrea Dip

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como você se posiciona neste capítulo tão importante da nossa história?

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Imagem: Getty Images

Colunista de Universa

28/10/2022 04h00

Faltando dois dias para as eleições que irão mudar o rumo do Brasil —de uma maneira ou de outra— fico pensando o que eu poderia te dizer sobre votar com esperança, com amor, sem medo, sem vergonha e com "convicção de estar do lado certo da história", que você já não tenha lido ou ouvido por aí. Porque eu sei que estamos exaustas. Correndo e exaustas, como escreveu uma vez Eliane Brum em uma brilhante coluna para o finado "El País Brasil". Há tanto ruído neste momento, notícias falsas, acusações e ofensas nas redes sociais, há tanta violência política, que muitas vezes é difícil se localizar, saber em quem acreditar e como seguir.

Mas o Brasil precisa que você tome fôlego, se baseie em dados de realidade. Por exemplo, como a pandemia de coronavírus afetou sua vida? Entre os mais de 700 mil mortos estava alguém que você amava? Como foi para você ouvir o presidente dizer que "não era coveiro", promover remédio falso, atrasar a compra de vacinas? O que você pensa sobre o Brasil estar de volta ao mapa da fome?

Como se sente quando um presidente diz que "pintou um clima" com uma menina de 14 anos e por isso entrou na casa dela? Você realmente acredita que defensores de direitos humanos, integrantes de movimentos sociais, pessoas LGBT+ devem morrer? Acredita que uma menina de 9 anos estuprada por um parente deve ter seu direito ao aborto legal negado? E que os povos originários, indígenas, quilombolas, devem perder seus territórios?

Acha que proteger a Amazônia não é algo urgente para o presente da humanidade? O que pensa sobre os escândalos de corrupção envolvendo integrantes do atual governo e a família do presidente? Quanto você está gastando para se alimentar? Você consegue por na mesa os mesmos alimentos de 5 ou 6 anos atrás? É uma conta justa com relação ao seu salário? O que pensa sobre as ameaças feitas pelo atual governo de endurecer a mão no autoritarismo em um segundo mandato? Você gosta da ideia de o Brasil ser visto internacionalmente como um país sob um governo autoritário de extrema-direita?

Esses são dados de realidade. Passam pela vida prática, pelo dia a dia, pelo que tem ou não tem mais no seu prato, pelo transporte que você pega todo dia para ir trabalhar, pela proteção das pessoas que você ama. Pela vida em comunidade. Pela maneira como nosso país é visto no mundo. E ainda faltam muitos outros dados aqui. Pensar sobre eles e decidir seu posicionamento —para além do que diz seu líder religioso, patrão, amigos e familiares— é ter autonomia de pensamento, de decisão. Na hora de votar, é você, sua consciência e a urna.

Nós entrevistamos pessoas de diferentes áreas nesses últimos dias para o podcast Pauta Pública, perguntando o que está em jogo nessas eleições. A resposta foi praticamente a mesma: "está em jogo a democracia". E entre as respostas, uma fala do jornalista Jamil Chade ficou marcada na minha cabeça: "Essas eleições irão definir quem nós queremos ser no mundo".

Que neste domingo você vote com consciência, com amor, com humanidade, senso de comunidade e, sobretudo, com autonomia de pensamento. Não terceirize a tarefa de pensar e decidir. Seu voto agora te localiza no mundo. Você. Não seu chefe, seu líder religioso, seus familiares. Porque os projetos de Brasil estão postos, são claros. Como você quer se posicionar neste capítulo tão importante da nossa história?