Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Cinco fake news sobre filhos e infâncias trans que você precisa conhecer
Há algum tempo, a atriz Charlize Theron publicou uma foto, no seu Instagram, comemorando o "Dia Nacional das filhas". Rara ocasião em que ela deixou suas duas filhas, adotadas, serem fotografadas. Charlize é mãe de Jackson, de 9 anos, e August, de 5. Criticada por criar Jack como menina, há algum tempo ela declarou que não era seu papel decidir quem suas filhas queriam ser. "Meu papel, como mãe, é celebrar e amar minhas filhas e deixar claro que elas terão tudo que precisam de mim para ser quem elas querem ser", falou para o jornal "Daily Mail".
O mito de que a mãe é a culpada pelos filhos serem LGBT é cruel. Tanto para a mãe, que não tem nada a ver com isso, quanto para o filho, cujo anseio em ser tratado pelo jeito que ele se percebe ou pelo jeito que sente é muito mais profundo do que pode parecer.
Garotas trans se sentem como garotas da mesma maneira que garotas cis, mesmo quando elas ainda vivem como garotos ou mesmo quando elas já fizeram a transição de garotos para garotas, conclui um estudo conduzido em 2013 pela psicóloga Kristina Olsen, da Universidade de Washington, que acompanhou um grupo de 85 pessoas trans desde a infância. [Garotas cis são as que se identificam com seu gênero do nascimento. Garotas que fizeram a transição são aquelas que nasceram com corpos e nomes masculinos e, depois, adotaram a identidade feminina.]
Para comemorar o Dia da Visibilidade Trans, que acontece em 29 de janeiro, decidi falar sobre os mitos que cercam a infância trans. Escolhi cinco e contei com a ajuda de duas mães de adolescentes trans: Laura Ribeiro da Silveira, professora universitária, que vive em Vitória, no Espírito Santo, com o marido e dois filhos, um deles trans, e Vanessa Sial, historiadora, que vive em Maringá, Paraná, com o marido e o filho, trans, de 13 anos.
Mito 1. Os pais influenciam na identidade de gênero do filho. "Isso é a mais pura bobagem", diz Vanessa Sial. "Tão bobo quanto dizer que a criança gosta tanto da mãe que quer se espelhar nela. Ou no pai. Ser trans não se trata de uma mera característica ou um viés da personalidade."
Mito 2. É culpa da escola ou da chamada ideologia de gênero [invenção brasileira que prega a existência de uma corrente de educadores que "forma" alunos LGBT]. "É uma ideia tão estapafúrdia que não dá nem para debater", diz Laura. "Não existe influência de professor capaz de transformar criança em gay ou em trans. Quem diz isso nunca conviveu com uma criança que sente que nasceu em um corpo que não é o seu."
Mito 3. Não existe criança trans.
"Sim. Existem crianças trans! Cada ser humano é único. Temos nosso código genético, nossa impressão digital e tantas outras características que nos fazem únicos", diz Vanessa Sial. Segundo Laura, as pessoas não aceitam a ideia da criança trans porque confundem identidade de gênero com orientação sexual. Esta, a orientação, se dá na adolescência, quando passamos a gostar de pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto. "Uma criança de 6 anos de idade sabe e se sente como menino ou como menina, mesmo sem ter interesse sexual em ninguém", explica Laura.
Mito 4. É uma moda, uma fase.
É verdade que, na adolescência, a busca pela identidade, em todos os sentidos, pode levar a experimentações. Mas a transexualidade, como diz Vanessa Sial, não é modismo. "Identidade de gênero não é escolha ou tendência. Se trata de ser e ter o direito de existir em sua plenitude com todas suas garantias e direitos de cidadania." Laura lembra que, quando foi dar a notícia da transição do filho para a família, uma parente religiosa levantou a possibilidade de ser apenas uma fase. "Expliquei para ela que o meu filho era muito ponderado e sólido. Quando ele me disse, aos 11 anos, que era transexual, não havia porque imaginar que não fosse verdade."
Mito 5. Crianças trans são frutos de famílias desajustadas.
Laura e Vanessa contam que esse tipo de pensamento é muito comum, como se a transexualidade existisse apenas em alguns lares e não em outros. "Somos uma família ultra padrão, harmoniosa, com pai, mãe e dois filhos. Nenhum psicólogo diria que somos desajustados", diz Laura. "As pessoas precisam entender que a transexualidade é um fenômeno normal, natural, que acontece com mais frequência do que a gente imagina."
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