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Fácil, mandona, fofa: livro mostra como esses adjetivos nos jogam pra baixo

"Adjetivo Feminino: Dicionário de Experiências", de Marina Jerusalinsky, traz 59 verbetes que definem pejorativamente uma mulher - Divulgação
'Adjetivo Feminino: Dicionário de Experiências', de Marina Jerusalinsky, traz 59 verbetes que definem pejorativamente uma mulher Imagem: Divulgação

Colunista de Universa

14/03/2022 04h00

Gosto dos livros pequenos. Eles são como o Kindle: leves, cabem na bolsa e enfrentam lindamente uma sala de espera. Na semana do Dia das Mulheres, recebi em casa um livro pequeno chamado "Adjetivo Feminino". Ele já foi devorado e vai morar ao lado de três outros livros que amo: "Devoção", da Patti Smith, "Meu Livro Violeta", de Ian McEwan, e o menor de todos, "Sejamos Todos Feministas", de Chimamanda Ngozi Adichie.

Mas este texto é sobre "Adjetivo Feminino: Dicionário de Experiências", da autora Marina Jerusalinsky, publicado pela editora Bebel Books. E o que ele traz? São 59 verbetes que, basicamente, definem pejorativamente uma mulher. Outra maneira de enxergar: 59 verbetes que ouvimos muito durante nossa vida de mulher. Ou ainda: 59 verbetes que nos jogam para baixo e que, talvez, expliquem essa falta de autoestima que nos atormenta tanto.

É um livro que poderia ter existido no século 19 porque, embora haja neologismos, ele trata de coisas que vêm lá de trás —o tal do machismo estrutural. Por exemplo, vamos à página 61 dar uma olhada no verbete "Exigente". "Mulher que exige de um homem tarefas impossíveis, como pendurar a toalha em seu lugar após o uso."

Uma espiada na página seguinte. Consta ali um adjetivo que os homens adoram usar: "Fácil". Mulher fácil é, segundo o livro, "a mulher promíscua, que não serve para casamento porque gosta muito de sexo, o que constituiria problema grave em uma relação conjugal". Como bom dicionário, o livro traz mais de uma definição. Então, a terceira definição para mulher fácil também é muito interessante: [aquela] "Que inflige ao homem o cruel sentimento de ser igual a qualquer outro mortal, ao invés de reconhecer que ele deve ser seleto, único e especial".

Por outro lado, ele só poderia ter sido escrito por uma autora jovem, filha de sua geração. Os jovens Y e Z já nascem feministas e antirracistas (graças a deus —ou às deusas). Por isso, a definição que as jovens dão ao chamamento "Prostituta" dificilmente seria reconhecida no passado. "Mulher negra que se detém na calçada para fumar um cigarro." Ou: "Termo que comumente se refere a profissionais do sexo, mas serve igualmente à crença alucinatória masculina de que toda mulher está à sua disposição."

Vocês já perceberam, claro, que as definições são irônicas. Por isso, o livro é leve e divertido, apesar de trazer em suas minúsculas páginas o peso da língua que agride, humilha e violenta mulheres.

"Adjetivo Feminino" é minha recomendação de presente para chefes, amigos, maridos, namorados, irmãos e quem mais estiver com dificuldade para compreender uma mulher que, como a autora diz, é "toda pessoa que se considera como tal, incluindo aí apenas os adjetivos que bem entender".

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