Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Nós, mulheres, que éramos esquecidas, vamos ser perseguidas nessas eleições
Já tivemos Dilma, uma presidenta da República, já tivemos Marina, uma respeitável candidata ao mesmo cargo (candidata que, além de mulher, é negra e nortista). Mas parece que só agora, em 2022, as mulheres viraram a protagonista de uma eleição. Demorou. Faz vinte anos que somos maioria do colégio eleitoral.
Em 2002, pela primeira vez, o número de mulheres aptas a votar superou o de homens. Desde então, esse número vem crescendo a ponto de, curiosamente, termos mais diferença positiva para as mulheres no colégio eleitoral do que na população como um todo. Então por que, só agora, os candidatos parecem preocupados de verdade com a gente?
Uma hipótese: mesmo sendo maioria, as mulheres não pareciam mostrar um grande interesse nas pautas femininas ou feministas até pouco tempo. Foi preciso que uma geração de adolescentes se organizasse nas redes sociais e anulasse, em parte, a feminismofobia de pais e mães.
Esses meninos e meninas, que nasceram no final do século passado, fizeram uma coisa formidável: não só compraram a causa feminista como reeducaram suas mães e as trouxeram para a causa.
Isso tudo, claro, não foi uma conquista que os jovens fizeram sozinhos: o mundo estava se tornando mais favorável ao empoderamento feminino por duas razões principais. A primeira: o acesso de grupos minorizados ao grande alto-falante das redes sociais. A segunda foi uma necessidade de mercado: uma economia baseada no consumo precisa fortalecer grupos populacionais expressivos, como as mulheres e os afrodescendentes. Só assim são criados novos ciclos de expansão.
Tudo isso junto, temos uma eleição em que as mulheres, embora continuem sendo pouco eleitas, podem, sim, decidir os resultados das urnas. Para marcar esse momento, trouxe alguns destaques sobre as mulheres brasileiras e as eleições. (Uso diversas fontes. A grande maioria pesquisa seus dados no IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e no TSE, Tribunal Superior Eleitoral.)
Com o superávit de eleitoras, uma cidade maior que o Rio de Janeiro
Em 2022, estima-se que o número de eleitoras ultrapasse em mais de 8 milhões o do número de homens. No total, somos 156 milhões de pessoas aptas a votar --82,3 milhões de eleitoras.
Nascem mais homens, mulheres vivem mais
Até os anos 1920, o Censo brasileiro contabilizava mais homens do que mulheres na população brasileira. Entre os anos 1930 e 1940, veio a virada. As mulheres foram ganhando mais expectativa de vida do que os homens. Eles, que nascem em maior quantidade (105 bebês homens x 100 bebês mulheres), vêm perdendo a corrida ao longo da vida, principalmente depois dos anos 1980, quando aumentou o número de jovens homens que morreram por causas violentas. Hoje, temos 51,1% da população brasileira composta de mulheres, correspondendo a 108,7 milhões. Quase 5 milhões a mais de mulheres do que homens no país.
90 anos de direito ao voto
Por coincidência, foi em 1932 que a mulher maior de 21 anos e alfabetizada passou a ter direito ao voto no Brasil. Na primeira eleição depois da conquista, porém, apenas 20 mulheres foram votar. Com a Constituição de 1988, tanto mulheres quanto homens analfabetos ganharam o direito do voto.
Mais parlamentares brancas
Se você se preocupa com desigualdades, mesmo entre mulheres, presta atenção nesse dado: mulheres pretas representam 9,2% da população. Mulheres pardas, 46,2% (2019). Entre as vereadoras mulheres, as mulheres pretas e pardas estão bastante sub-representadas: 5,3% e 33,8% respectivamente.
A pobreza é feminina
Estudo da Cepal de 2019 mostra que, para cada 100 homens vivendo em lares pobres da América Latina, havia 112 mulheres nas mesmas condições. A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) é uma comissão da ONU, Organização das Nações Unidas.
O poder ainda é masculino
Segundo a PNAD de 2019, 15,1% dos homens terminaram a faculdade enquanto o mesmo aconteceu com 19,4% das mulheres. Mesmo assim, 62,6% dos cargos gerenciais eram ocupados por homens e 37,4% pelas mulheres em 2019. Naquele mesmo ano, apenas 16% dos vereadores eleitos no Brasil eram mulheres.
... e a velhice é feminina
Segundo o especialista em população, José Eustáquio Diniz Alves, eme 2060, "o IBGE estima um contingente de 33 milhões de homens idosos e 40,6 milhões de mulheres idosas, com superávit feminino de 7,6 milhões de mulheres". Aspecto curioso: em 2022, cerca de 87 mil mulheres com mais de 100 anos de idade poderão votar.
Os evangélicos são mulheres
Dentre os evangélicos autodeclarados, 60% são mulheres.
Fontes principais:
Documento Brasil: uma Visão Geográfica e Ambiental no Início do Século XXI, IBGE
Estatísticas de Gênero, Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, IBGE/21
Recenseamento do Brasil de 1920 (publicado em 1928)
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