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Carla Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dia da Mentira: o que você precisa parar de acreditar sobre as mulheres

Há séculos tentam fazer acreditar que as mulheres são fracas, têm cérebro menor e são submissas, entre outras coisas - Getty Images
Há séculos tentam fazer acreditar que as mulheres são fracas, têm cérebro menor e são submissas, entre outras coisas Imagem: Getty Images

Colunista de Universa

01/04/2021 04h00

Hoje é o Dia da Mentira e, ao invés de fazer pegadinha, tô aqui para trazer informação de qualidade para você se livrar de conceitos estereotipados sobre como as mulheres são, pensam e agem. Estamos em 2021 e a gente não pode continuar acreditando em fake news de séculos passados, não é mesmo?

Afinal, em piadinhas misóginas aqui e ali a gente ainda percebe conceitos que vêm desde o século 18, como a ideia de que mulheres são social, intelectual e emocionalmente inferiores ou de que nosso papel "natural" é ser mãe, cuidadora, companheira dos homens.

Como a pesquisadora Gina Rippon fala em seu livro "Gênero e os Nossos Cérebros" (ed. Rocco), "as crenças sobre as diferenças sexuais (mesmo que sem fundamento) formam a base dos estereótipos". Então, bora desconstruir essas ideias erradas sobre as mulheres que ainda permeiam o senso comum?

Mulheres são o sexo frágil?

Bom, vamos aos fatos: mulheres vivem mais que homens. Mulheres têm sistemas imunológicos mais fortes e, de modo geral, são mais resistentes a infecções por vírus e bactérias. Mulheres também são melhores em produzir e usar anticorpos. Quase tudo que é biologicamente difícil de fazer na vida, da sobrevivência ao desenvolvimento, é feito melhor pelas mulheres. Até mesmo a margem de sobrevivência de bebês do sexo feminino é maior.

"As mulheres simplesmente são mais fortes do que os homens em todas as fases da vida." Quem afirma isso é o dr. Sharon Moalem em seu llivro "The Better Half: on the Genetic Superiority of Women" (A Melhor Metade: a Genética Superior das Mulheres, em tradução livre), baseado em evidências científicas e estatísticas como a de que idosas, em média, vivem entre quatro a sete anos a mais do que homens da mesma faixa etária. E com o avançar da idade essa diferença fica mais notável — a cada cem pessoas centenárias vivas, 80 são mulheres e 20, homens. O fato é que mulheres são geneticamente mais fortes que homens.

O cérebro feminino é menor?

A neurocientista britânica Gina Rippon, autora do livro Gênero e os nossos cérebros (Ed. Rocco) - Divulgação - Divulgação
A neurocientista britânica Gina Rippon, autora do livro "Gênero e os Nossos Cérebros" (Ed. Rocco)
Imagem: Divulgação

Eu tenho vívida na memória a chamada de uma reportagem do "Fantástico" (Globo) sobre una grande revelação científica: mulheres tinham menos neurônios que homens. Foi uma comoção, na escola os garotos começaram a usar isso para desvalidar o que garotas falavam o tempo todo.

Há inúmeras pesquisas (de eugenistas, cabe dizer) argumentando que o cérebro das mulheres era menor que o dos homens e, por isso, a nossa capacidade intelectual deveria ser menor — fato que, por mais que tenham se esforçado, nunca conseguiram provar. O fato é que esse lance de ter menos neurônios ou ter o cérebro mais leve está muito mais ligado ao tamanho do corpo.

Cérebros femininos não têm atração por coisas rosas, por mais que sim, pessoas com cromossomos XX vejam mais cores do que as com cromossomos XY.

A pesquisadora Lise Eliot afirma que "diferenças cerebrais entre os sexos são irresistíveis para aqueles que tentam explicar diferenças estereotípicas entre homens e mulheres. Mas, quando exploramos diversos conjuntos de dados e conseguimos reunir amostras muito grandes de homens e mulheres, percebemos que essas diferenças geralmente desaparecem ou são insignificantes".

Mulheres são submissas e homens dominadores?

Isso daí é fake news que circula desde a Antiguidade. Grande parte dos famosos pensadores da Grécia Antiga eram misóginos que faziam de tudo para silenciar mulheres. Isso era parte do amadurecimento de homens, segundo Homero, e fazia parte de diversos mitos greco-romanos de mulheres que foram mortas e castigadas por ousarem falar.

No livro "Mulheres e Poder - Um Manifesto" (ed. Crítica), a autora Mary Beard fala sobre como o discurso público e a oratória não eram apenas coisas que mulheres não faziam, mas sim práticas e habilidades que definiam a masculinidade como gênero. Telêmaco dizia que tornar-se homem era reivindicar o direito de falar.

Mulheres não são naturalmente submissas. Elas apenas tiveram suas falas silenciadas na cultura ocidental por milênios.

Mulheres são mais instáveis emocionalmente?

Essa é uma desculpa clássica usada por homens para justificar que mulheres não são adequadas a cargos de liderança. Mas, você sabia que os sintomas característicos da TPM (Tensão Pré-Menstrual) como irritabilidade, descontrole emocional e ansiedade acontecem só em mulheres do ocidente?

Pesquisas dizem que há razões sociais mais fortes que explicam esses sintomas de natureza mental. Até porque mudanças de comportamento mais associadas diretamente ao ciclo menstrual feminino no mundo todo são, na verdade, superpositivas, como melhora cognitiva, processamento afetivo e desempenho de memória ligados à fase ovulatória.

Então, quando mulheres se estressam, se irritam, ficam indignadas, não é excesso de "hormônio", não. Este é apenas o reflexo das condições sociais das mulheres: o alto nível de estresse, ansiedade, carga mental, pressão social.

Não é por acaso que o número de mulheres que sofrem de depressão ou têm distúrbios alimentares tende a ser maior que o de homens, segundo a jornalista Angela Saini autora do livro "Inferior é o C*ralho" (ed. Darkside).

Eu poderia continuar essa lista para sempre, porque, infelizmente, o que não falta são mitos e estereótipos sobre mulheres a serem desconstruídos na nossa cultura. Mas as diferenças entre homens e mulheres são muito menores do que fizeram a gente acreditar.

Pode espalhar a verdade por aí ;)