Topo

Carla Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Positividade em alta até na moda: a roupa pode fazer você se sentir feliz?

A influenciadora carioca Josy Ramos, adepta dos looks alto-astral - Reprodução/Instagram
A influenciadora carioca Josy Ramos, adepta dos looks alto-astral Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista de Universa

08/04/2021 04h00

Já vou te dizer logo a resposta: Sim, pode. E pelo que eu tô observando do mundinho fashion do TikTok e das coleções do próximo inverno de grandes marcas, roupas que transmitem felicidade é uma tendência que só faz crescer.

É o chamado "Dopamine Dressing" termo cunhado em 2017 pelo jornal britânico "The Guardian", baseado na ideia de que usar roupas divertidas pode ajudar a melhorar seu humor em tempos depressivos.

A dopamina é um neurotransmissor que está diretamente ligado às nossas emoções, ao humor e também à sensação de prazer. É quem diz pro seu cérebro que você está se sentindo bem. Então, quando você usa roupas que considera divertidas, você envia para o seu cérebro o recadinho de "Ei, hoje quero me sentir feliz" — e ele entende o recado.

No meu livro "Use a Moda a Seu Favor" (ed. Galera), cito diversos estudos científicos que mostram como o que você veste pode interferir na forma como você sente, age e pensa.

O fato é que a moda tem um potencial enorme de fazer a gente se sentir bem, de aprimorar nosso bem-estar, contribuir positivamente com a nossa autoestima.

Fuga da realidade: Stella McCartney buscou inspiração na arte ótica para nova coleção lançada na pandemia - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Para fugir da realidade: em coleção lançada em março, a estilista Stella McCartney buscou inspiração na arte ótica
Imagem: Reprodução/Instagram

Nesses tempos pandêmicos, quaisquer estímulos de felicidade têm sido bem-vindos. Entre os TikTokers são diversas tendências e áudios que estimulam a usar o que combina com você e te faz feliz: seja extravagante, gótico, sexy, minimalista ou vitoriano. Afinal, para que ter um estilo se você pode ter todos? É sobre isso também.

Alguns desses jovens reivindicam que se expressar pela moda também é autocuidado. E é mesmo. É um exercício importante de olhar para dentro e entender o que funciona para você, combina com sua personalidade e com a mensagem que quer passar para o mundo.

E isso tem muito a ver com o momento de Stella McCartney, ícone da moda sustentável, que surpreendeu com sua coleção de inverno 21. Apresentada no final de março, a coleção está repleta cores intensas, estampas e volumes — como ela mesma descreveu, "extrema" e bastante diferente da imagem "minimalista" à qual a estilista inglesa ficou associada nos últimos anos.

A coleção de Stella tem muita referência a estética agênero de David Bowie dos anos 1970 e estampas que promovem ilusões de ótica inspiradas na Op Art (arte ótica). É como se suas roupas buscassem caminhos de fuga da realidade — e, de certo modo, não é o tipo de coisa que a gente está precisando?

Mas, atenção aqui: por mais que o "Dopamine Dressing" enquanto tendência de moda esteja diretamente associado a cores intensas, brilhos, estampas, volumes, tudo-junto-misturado-ao-mesmo-tempo-agora, a sensação de felicidade vai variar de acordo com a individualidade e referências de cada pessoa.

Tem gente, como eu, que vai se sentir mais animada usando um vestido multicolorido. Tem outras que vão estar radiantes usando um lookinho todo preto como a consultora de estilo Thais Farage. E até mesmo as roupas que te provocam essa sensação de felicidade podem variar de tempos em tempos, como no caso da Stella.

Por isso, tão importante quanto saber que as roupas podem sim contribuir para aumentar a sua sensação de bem-estar, é entender que não existe fórmula pronta. Como diz a pesquisadpra Carolyn Mair: "Isso é muito mais sobre você — e o significado que você associa a essas roupas — do que sobre as peças em si".