Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Rejeição a Thaís mostra que dedinho é mais veloz ao apontar erro da mulher
Thaís foi a eliminada do BBB21 com 82,29% dos votos. Uma garota, cujo maior erro foi dar moral para um cara que não estava nem aí para ela, saiu com uma rejeição altíssima frente a dois homens que tiveram comportamentos agressivos, tóxicos e literalmente nojentos - vou ter pesadelos para sempre com aquela cena do Fiuk devolvendo para a panela o macarrão que caiu no ralo da pia. Esse parece ser o padrão dessa edição do reality: o dedinho é sempre mais veloz para condenar as mulheres.
Thaís foi eliminada por não fazer "nada" e Sarah foi indicada pelos seus "amigos" por conta da atitude de outro homem. E teve a Carla Diaz, que também foi eliminada num paredão com um homem, que já vinha acumulando comentários misóginos e homofóbicos, só por ter feito o papel de trouxa se ajoelhando para um cara que não estava nem aí para ela em rede nacional.
O Brasil não perdoa mulheres que não atendem a suas expectativas sobre seu comportamento e/ou atitudes. E por mais fácil que seja culpar homens, o fato é que preciso propor a autocrítica: por que nós, mulheres, pegamos tão pesado com outras mulheres?
Essa urgência pela punição das mulheres se chama vilanização feminina, que como comunicóloga Clara Fanunfes explicou no seu Instagram "tem a ver com o patriarcado e uma cultura que responsabiliza mulheres e infantiliza homens, dando a eles novas chances".
Lumena saiu antes de Projota. Carla e Sarah saíram antes do Rodolffo. Thaís saiu antes do Arthur e do Fiuk. E, para além dos paredões, no BBB21 é possível perceber como esse olhar de vilanização permeia as relações o tempo todo, como quando a Sarah começou a desconfiar da lealdade de Juliette, mas não dos caras que na primeira oportunidade a colocaram no paredão.
Num dos VTs exibidos durante o programa desta terça-feira (13), a Pocah fala sobre como esse elenco feminino não conseguiu se unir. No BBB20, Manu Gavassi fez as buscas por sororidade dispararem no Google. Mas, por mais que este conceito de "união entre mulheres" esteja sendo cada vez mais falado e propagado, a gente sabe mesmo como praticar essa tal sororidade?
Dizer que mulheres precisam dar as mãos e se apoiar é importante e funciona para dar engajamento no Instagram. O conceito é lindo, mas, para além das frases de efeito, temos que nos dedicar a reprogramar o nosso sistema. A boa notícia é que nosso cérebro é plástico então não importa a idade, a gente sempre pode flexibilizar para aprender coisas novas. Mas, a gente sabe que sair da inércia requer um esforço de tempo de energia. E não é fácil reajustar nossas réguas que avaliam comportamentos masculinos e femininos, mas a gente precisa equilibrar essas medidas.
Como a Clara Fagundes propõe: "Sempre questione: os erros dela são tão prejudiciais (ou até perigosos) quanto os dele?".
Não dá para continuar tratando homens adultos como 'meninos' que fazem as coisas 'sem intenção' como Arthur, Rodolffo e Fiuk (e não é coincidência só ter homens brancos nessa lista). No entanto, se exige que mulheres sejam sempre alertas, espertas e coerentes e são punidas sem direito a segunda chance quando elas não correspondem a essas expectativas. Foi o caso da Carla, da Thaís e de outras participantes. Mas o Brasil não está pronto para essa conversa
Sim, eu sei que as últimas 5 edições tiveram mulheres como campeãs. E que bom que o Brasil já aprendeu a premiar mulheres (mesmo as de comportamentos equivocados). Mas agora a gente precisa parar e refletir sobre esse rigor com o qual punimos as falhas femininas. Vale pro BBB, vale para a vida.
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