Num país sem planejamento, estou me guardando pra quando a vacina chegar
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Eu confesso, ando obcecada. Só penso na vacina. Chego a sentir o ardor da seringa rompendo minha derme. Vem ni mim, Coronavac, que eu to facinha! Esses dias até sonhei que estava tomando a vacina e depois ia direto pra uma quadra de escola de samba me esfregar nas pessoas como se não houvesse amanhã (e como se não tivesse que esperar os dias necessários para que ela faça efeito).
Meu braço se enrijeceu de emoção quando vi aquela tão esperada imagem da primeira pessoa se vacinando no planeta. Uma simpática senhora britânica de 90 anos conterrânea da Rainha Elizabeth. Me emocionei com a cena, comemorei e logo em seguida senti um desalento, lembrei que moro no Brasil, o país que até outro dia não tinha Ministro da Saúde.
Hoje temos ministro, como é mesmo o nome dele? Aquele moço... Ai meu Deus, como ele se chama mesmo? Aquele moço que sempre diz amém pro General? Minha memória me deixa assim, perdida. Pazuello, isso Eduardo Pazuello.
Com tanta intransparência na comunicação oficial, ficou difícil até decorar o nome do Ministro. Aqui, na terra do nunca, nunca tivemos racismo, nunca tivemos pandemia, nunca tivemos fome e por aí vai, estamos vivendo completamente privados de informação e orientação oficial. Nós só conseguimos contabilizar o número de óbitos por coronavírus porque existe um consórcio montado pelos principais veículos de imprensa do país. Transparência e assertividade nas informações não é uma atitude recorrente no governo atual.
De fato, o tão sonhado novo normal está longe de nós. E nós somos o nada, os seres invisíveis no meio da briga entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Dória. Diante de todas as irresponsabilidades governamentais, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski exigiu, no último domingo, que o ministro da Saúde informasse a data de início e de término do seu plano para vacinação da população contra a covid-19. Eu fico aqui imaginando que ao receber essa intimação o Pazuello deve ter se questionado: Que plano? Eu tenho um plano?
A nossa situação é tão periclitante que nem sabemos por onde começará a vacinação no país. Quem serão os primeiros da fila? Será que repetiremos as lamentáveis cenas que assistimos em São Paulo de pessoas chegando dois dias antes na fila para tomar a vacina de febre amarela? As crianças serão vacinadas? Haverá prioridade para os profissionais de saúde?
A única certeza que me parece cabível neste momento é que a pandemia não está no "finalzinho" como insiste Bolsonaro. Eu tenho cá pra mim que depois de assistirmos ao coronavirus matar mais de 180 mil brasileiros só prossegue acreditando nos devaneios do governo federal quem realmente prefere se cobrir com o véu da ignorância para se proteger do poder devastador da verdade.
Não era só uma "gripezinha". Aliás, os comentários e a conduta irresponsável do chefe maior servem para inflar os brasileiros a acreditarem que tudo bem se a gente se unir na festinha de Natal, tudo bem se a gente lotar o bar no #sextou e ficar todo mundo bebendo e se abraçando sem máscara numa esquina qualquer da Vila Madalena ou do Leblon.
Não está tudo bem. Sua vida continua em perigo. As equipes de saúde da linha de frente estão exaustas. As unidades de terapia intensiva estão lotadas e as fake news sobre a vacina vão gerando pânico na população enquanto são compartilhadas aos montes nas redes sociais.
A incompetência deste que ocupa o cargo de presidente da República causa ainda mais mortes. Quanto mais nos atrasamos para implantar um plano nacional de vacinação mais aumentamos o número de mortos por complicações causadas pela covid-19.
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