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Há um lugarzinho especial no inferno para mulher que não apoia outra mulher
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Ao longo dos anos, as mulheres estão realizando conquistas importantes no mercado de trabalho. Ainda que estejamos vislumbrando um avanço em câmera lenta, um levante em prol das nossas conquistas está em curso há décadas e, dia após dia, reúne mais apoiadores ao redor do mundo.
No Brasil, por vezes, tenho a impressão de que, ao invés do filme avançar em marcha lenta, ele retrocede como as antigas fitas cassetes que rebobinávamos antes de devolvê-las nas locadoras. Caminhamos para trás em direção ao futuro e retrocessos são promovidos golpeando em cheio a crença de um mundo melhor para a vida das brasileiras.
Entretanto, quando o assunto é mercado de trabalho, as pesquisas mostram um avanço paulatino das mulheres no país. Avanço ainda muito desigual, pois sabemos que estamos categorizadas num suposto padrão aceitável que insistentemente exclui as negras — principalmente as mais retintas —, as mulheres com alguma deficiência, as indígenas e, sobretudo, as mulheres trans e travestis.
A trajetória de uma mulher até um cargo de poder e liderança é mais árdua do que a dos homens. Um estudo realizado em 2007 pelas pesquisadoras Alice Eagly e Linda Carli, publicado pela "Harvard Business Review", comprova esta realidade. Através de uma analogia com o labirinto, as autoras demonstraram como o caminho das mulheres até a liderança é ardiloso e cheio de sinuosidades tal qual o labirinto.
Se você já assistiu a um filme com labirintos ou esteve dentro de um, sabe como as paredes parecem querer nos engolir. Assim funciona o preconceito que desenha a resistência à liderança feminina somado às demandas da casa, dos filhos, à interseccionalidade de raça e de gênero. Um meandro de opressões que nos mói a cada passo em direção ao empoderamento.
Não linear, frágil e ansioso: esse é o caminho ao poder. Manter sanidade mental durante esta jornada é um exercício perverso de resiliência. Neste labirinto, a maioria de nós se perde, poucas chegam e algumas das que chegam se devoram. Uma corrida onde só existe lugar ao pódio para duas ou três propicia que algumas decidam arriscar tudo pela linha de chegada.
Aliada, não inimiga
Tenho vivido algumas situações com mulheres no poder que estão me fazendo refletir sobre o meu posicionamento enquanto profissional e, principalmente, enquanto liderança. Feliz aquele que aprende com os erros do outro, assim não precisa fazer m*rda para adquirir aprendizado, pula duas a três casas no joguinho da vida.
Falo de mulheres que enxergam as outras como inimigas e não como aliadas. Assumem comportamentos opressores e, no desejo de se tornarem CEOs, se transformam naquele que, por anos, abominaram. Assediam, gritam e humilham para provar que não são fracas. Atiram nas companheiras de guerra, pisoteiam outras mulheres esquecendo que suas conquistas são o resultado da luta de todas nós.
Durante uma entrevista para o TED em 2011, a ex-Secretária de Estado americana Madeleine Albright disse: "Há um lugarzinho especial no inferno para a mulher que não apoia outras mulheres". Albright é um nome forte na defesa pelos direitos das mulheres de todo o mundo. Foi decisiva na transformação do estupro como crime de guerra, na consolidação das mulheres em lugares de poder dentro da Organização das Nações Unidas e suas conquistas profissionais se refletem nas conquistas de outras mulheres mundo afora.
O sucesso de uma boa líder não está em se distanciar e em destruir seus oponentes. Depois de levar muita pancada durante a minha procura incessante pela porta de saída do labirinto, descobri que minha maior oponente esteve sempre junto de mim e posso vê-la refletida no espelho toda vez que deixo o medo tomar conta da direção. A liderança é construída com aliados, é juntes que nos tornamos mais fortes.
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