Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
'BBB 22': Com ou sem Maria expulsa, o que Natália faz para ser tão odiada?
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Maria acaba de ser expulsa do "BBB 22" após agredir Natália durante o jogo da discórdia dessa segunda-feira (15). A dinâmica colocou fogo no parquinho, queimou de forma humilhante uma das jogadoras e provocou a expulsão da outra. Parece que a especialidade do Big Boss é despejar sujeira nos corpos de mulheres negras.
A brincadeira consistia em um jogador fazer uma acusação contra o outro, e o restante da casa concordar ou discordar da acusação. Havendo um acordo da maioria dos brothers e sisters, o acusador poderia jogar um balde de água "suja" na cabeça do outro.
Durante o imbróglio entre Maria e Natália, a maioria da casa concordou com a primeira, que disse que Natália seria arrogante. Ao jogar a água nela, Maria o fez com visível raiva e bateu o objeto na cabeça da sister. Disse ter sido sem querer, mas admitiu que não conseguiu controlar sua raiva. Típico de criança mimada brincando no parquinho que derruba a coleguinha, oferece a mão para ela se levantar, pede desculpas, vira as costas, coloca um sorriso rancoroso no rosto e diz um "bem feito" com todo o ódio existente no coração.
Depois do ocorrido, a hashtag #mariaexpulsa dominou os trends topics do Twitter e hoje, pouco antes das 13h, Maria foi chamada ao confessionário. Toda a casa foi informada de que a atitude da sister foi considerada agressão e ela deixava o jogo naquele momento.
Diante de todo o ocorrido, com ou sem Maria expulsa, a pergunta que não quer calar é: o que Natália faz que merece ser tão odiada dentro da casa e considerada arrogante?
Ela não se submete aos outros, embora seja confusa, o que acredito ser resultado de muitas das violências que já sofreu na vida. Ela não fica calada quando esperam que ela se cale.
Natália não esconde suas dores e, usando uma frase da fabulosa bell hooks, ela não usa o silêncio como uma fala correta da feminilidade e acaba, dentro de um estereótipo racista e sexista, sendo tachada como barulhenta, chata e arrogante.
Desde o início do programa, tenta atrair ouvintes para a sua fala e, na maioria das vezes, só atraiu inimizades. Ela diz para ouvidos que não a escutam, chora diante de olhos que não a enxergam. Natália, hoje, é sinônimo de solidão.
Em sua obra "Erguer A Voz: Pensar Como Feminista, Pensar Como Negra", bell hooks descreve a fala verdadeira como um ato de resistência que desafia as políticas de dominação, um ato de coragem que acaba representando uma ameaça para aquele que tenta manter mudos os que ousam falar.
Natália se tornou o alvo da casa, pois para os seus oponentes que necessitam desesperadamente construir uma história de poder que não possuem, uma mulher que não se cala se torna ameaçadora, e toda ameaça deve ser silenciada, controlada.
Em um planeta onde raça e gênero são usados como parâmetros de diferenciação, uma mulher como ela, negra e com vitiligo, é vista como um ser humano que necessita ser eliminado.
Tida como louca e arrogante por não se permitir encaixar onde tentam confiná-la, o abuso físico se torna sua punição. O balde, a água suja, o paredão.
Se tivesse os olhos azuis de Jade talvez fosse desejada, mas tendo ela a pele negra e manchada, só recebe os dejetos, é desqualificada e rejeitada. Embora saibamos que nenhuma mulher é livre, para mulheres como Natália o peso das correntes é ainda maior, pois a chave da liberdade é escondida não só pelos homens, mas também por mulheres brancas e por mulheres quase brancas como Maria.
Quase preta quando for para ser a vítima e quase branca quando for para ser agressora, Maria se deita no colo do colorismo e impõe a Natália o castigo se valendo do fato de ser "quase" da família.
E lá se foi meu último resquício de simpatia com Maria. E eu achei que você tinha um dom, uma certa magia. Logo você que trouxe no corpo a marca Maria, mas não soube misturar a dor e a alegria.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.