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Cris Guterres

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nada me abisma mais do que a mulher assumidamente bolsonarista

Bolsonaro com a primeira-dama, Michelle, durante a "Marcha para Jesus" em Balneário Camboriú (SC)                              - Reprodução/Twitter
Bolsonaro com a primeira-dama, Michelle, durante a "Marcha para Jesus" em Balneário Camboriú (SC) Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

06/07/2022 04h00

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Muitas coisas me surpreendem na campanha eleitoral que já está em curso, mas nada me abisma mais do que a mulher assumidamente bolsonarista, na dianteira das mobilizações em favor de Jair Bolsonaro (PL).

O atual presidente nunca se furtou de ofender abertamente as mulheres. Desde os absurdos pronunciados em relação à própria filha —que, segundo ele, é fruto de uma fraquejada e que, se um dia ficasse grávida de uma situação de estupro, seria obrigada a ter o bebê— até as desprezíveis ofensas proferidas à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) ou à jornalista Patrícia Campos Mello.

Bolsonaro é um triturador de mulheres, quer seja em suas falas ou em suas ações. Ele sempre as esmaga com a caneta, com a palavra ou com a mão.

Desde 2019, quando assumiu o cargo, rebaixou o tratamento dado às políticas para a população feminina, não utilizou metade dos recursos destinados para a área, tentou vetar a distribuição de absorventes e abriu espaço para somente quatro ocuparem cargos de ministras entre as 23 pastas que compõem o departamento.

Por isso, me surpreendo com essas mulheres que orgulhosamente vestem uma camisa verde e amarela e vão às ruas gritar em favor de Bolsonaro. Fico refletindo sobre quem são. O que comem? Onde Trabalham? Como tratam seus empregados ou como são tratados por seus patrões? São jovens? São de meia-idade? São amadas? Estão em relacionamentos abusivos com homens parecidos com o presidente?

Neste ano, as mulheres serão decisivas para o resultado das eleições. Nós somos a maioria entre os eleitores de todas as faixas etárias e o maior grupo de leitores indecisos que os dois candidatos lutarão para conquistar. Quando o assunto é rejeição, as mulheres formam o grupo que mais repele Bolsonaro. Segundo o Datafolha, ele tem modestos 21% entre as intenções de voto das mulheres, enquanto Lula soma 49%.

Embora eu tenha me proposto a pensar aqui em quem são as mulheres que estão na linha de frente da campanha de Bolsonaro, o que mais me preocupa não são elas, mas sim um eleitorado silencioso. Um grupo que está sofrendo imensamente como a inflação nas alturas e com a falta de empregos, mas que segue as ordens do pastor. Me refiro a um contingente imenso de mulheres evangélicas, em grande maioria negras, que lotam as igrejas de segunda à segunda e que foram um voto importante para a vitória em 2018.

Essas mulheres não vestem verde amarelo, não sobem em motos para berrar nas motociatas, não se movem nas ruas em defesa de Bolsonaro. Como chegar nelas? Não tem roda de conversa de feminismo negro, não tem live, não tem passeata que chegue até elas. A conversa precisa ser cara a cara. É um trabalho que as lideranças femininas da periferia já estão articulando há algum tempo. Me refiro às mulheres que movem o mundo pelas margens, as líderes comunitárias, conselheiras tutelares, conselheiras gestoras de unidades básicas de saúde. Mulheres que fazem política na fala e nas ações com a comunidade, que estão se candidatando a um mandato eletivo pela primeira ou segunda vez, as mulheres que eu acredito que são capazes de transformar o Brasil.

Nós temos a força de virar o jogo. Não podemos ser tolerantes com o tratamento desumano que recebemos neste governo. Não votar em Bolsonaro é votar pela vida das mulheres.