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Justin Bieber: você está certo em parar, mas desistir tem preço alto
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Superação foi uma palavra que muitas reportagens usaram para descrever a apresentação de Justin Bieber no último domingo (5) no Rock in Rio. O show do cantor no festival permaneceu incerto até o último momento e, quando as luzes se acenderam, uma pessoa visivelmente desconectada apareceu no palco quase como se fosse para cumprir um protocolo. Os próximos shows da turnê pela América Latina foram cancelados pelo cantor na terça-feira (6) —a tour incluiria uma apresentação em São Paulo.
Comprometimento e profissionalismo podem ter motivado Bieber a dizer "ainda dá", subir ao palco e entregar o melhor de si, apesar das circunstâncias. Durante o Rock in Rio, muitos fãs perceberam a visível desconexão, a voz sumiu em alguns momentos, deixando audível o playback, as backing vocals e o coro da platéia que segurou firme a mão do cantor.
"Apesar de ele não estar 100% bem, conseguiu entregar muito", disse uma fã sobre o show. Ela se referia ao fato de que o astro canadense assumiu complicações com a saúde mental e foi vítima de uma síndrome rara que paralisou parte do rosto de Bieber e o fez cancelar shows para tratar a doença. A síndrome é causada pelo vírus varicela-zoster, o mesmo da herpes-zoster e da catapora, e, além da paralisia de músculos, causa lesões na pele e dores fortes.
A frase da fã juntamente com as palavras de superação utilizadas pela imprensa me fazem refletir o quão perversos estamos sendo ao vangloriar o esforço de alguém que não está bem. Tudo isso diz muito sobre a péssima relação que temos com as doenças psiquiátricas. O desconhecimento e a negação fazem com que grande parcela da população veja a depressão como uma frescura e não com a devida importância que uma doença psiquiátrica crônica exige.
No entanto, somos a geração que vive o aumento do desempenho pessoal na mesma proporção em que aumentam os transtornos psiquiátricos. Estamos aplaudindo a superação de alguém que talvez devesse estar em casa cuidando da própria saúde. Desde o lançamento de seu documentário, "Justin Bieber: Next Chapter", em outubro do ano passado, a saúde mental do artista tem sido assunto. Na obra, o cantor revelou ter pensado em suicídio devido à pressão do sucesso.
As pessoas não entenderam o que ele disse e continuam pressionando para que o astro entregue tudo mesmo não estando bem. A pressão do sucesso é implacável. Assistindo ao show e lendo o que foi dito sobre, me lembrei das inúmeras vezes que fiz o mesmo que os fãs de Bieber: vangloriei pessoas que foram trabalhar mesmo não estando bem. Inúmeras vezes entreguei trabalhos e não tive coragem de desmarcar compromissos mesmo estando doente. Essa atitude tem um custo alto para a minha saúde a longo prazo.
Desistir não é um verbo que nós gostamos de conjugar. A sociedade do mérito gosta de aplaudir quem vai além da persistência. E esse ir além pode ser perigoso. No caso de Bieber, desistir tem um preço alto a ser pago, muito dinheiro está em jogo. Apesar da plateia ter sido uma bela companheira durante sua apresentação, contribuindo para que ele cumprisse a missão e o lembrando do valor incomensurável da admiração de um fã, é necessário perguntar: quanto vale a sua humanidade?
O trabalho precisa caber na vida e não a vida ter que caber no trabalho.
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