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Cris Guterres

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coração na boca, pernas tremendo: como foi meu encontro com Viola Davis

Colunista do UOL

21/09/2022 04h00

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No dia marcado para a entrevista com a atriz Viola Davis no Rio de Janeiro —ela veio ao Brasil para divulgar seu novo filme, "A Mulher Rei" —entrei no avião às 7h com um livro na mala, perguntas no celular e o medo no bolso. Não seria minha primeira entrevista com uma celebridade internacional. Anos atrás, por exemplo, entrevistei a modelo e atriz Cara Delevingne em Londres para a marca Puma. Mas o nervosismo nem se comparava.

No momento do encontro, estava com o coração na boca. Minhas pernas tremiam, e eu já tinha inalado um pote inteiro de óleo essencial de lavanda para me acalmar, mas sem sucesso. Quando entrei na sala e vi Viola sentada, quase me derreti. Seu olhar acolhedor pra mim me deixou à vontade para dizer como me sentia, por estar diante de alguém que é um farol para mulheres como eu, negras, que buscavam reconhecimento de uma sociedade hipócrita e racista.

Viola foi gentil, me olhou nos olhos e disse que entendia exatamente o que eu estava dizendo. Daí em diante foram poucos minutos de conversa e muito tempo de acolhimento e amor. Talvez ela nem se lembre mais de mim, pois deve ter conhecido dezenas de pessoas só naquele dia, mas ela esteve presente numa das cenas mais importantes da minha vida.

Mesmo como coadjuvante, já que eu tive que ser a protagonista de um momento em que sempre sonhei viver. Desde o dia em que vi Glória Maria entrevistar Madonna e eu pensar: "É isso o que quero fazer. Quero conversar com pessoas para que elas possam mostrar ao mundo o melhor delas".

Ao final da entrevista com Viola, eu estava tão atordoada que me perdi em Copacabana. Andei por mais de 2km com uma bolsa pesada nos ombros sem perceber que já havia passado do meu hotel. Nessa bolsa eu carregava o computador, o livro e o celular com as fotos ao lado de Viola, mas na mente eu trazia a fabulosa sensação gerada pela vitória. Eu não só tinha entrevistado Viola Davis, como tinha trazido ela até mim nos poucos minutos que estivemos juntas.

Quando recebi a mensagem de que encontraria com a atriz, alguns dias antes, pulei de alegria e abracei o celular. Ninguém entendeu nada quando me viu, mas as pessoas ao meu redor se solidarizaram com a minha felicidade, que em poucos segundos se transformou em medo quando me dei conta de que eu iria entrevistar uma das maiores atrizes da atualidade e minha ídola.

Por vezes já dividi aqui nesta coluna que uma sabotadora faz morada dentro de mim. Ela se alojou com mala e cuia, ergueu sua barraca em minha mente e me convenceu de que eu não era boa o suficiente para receber o que o universo me oferecia. Mas é claro que a sabotadora ficou em alerta desde o primeiro segundo que soube que eu entrevistaria Viola, e a ação de medo que ela me gerou foi tão intensa que fui incapaz de contar às pessoas que eu era uma das jornalistas brasileiras escolhidas para estar de frente com esta mulher fabulosa.

Eu achava que algo aconteceria e que na última hora a entrevista não iria acontecer. Viola poderia desistir da viagem ou da entrevista. Na minha cabeça, algo aconteceria no caminho que me impediria de chegar até ela. Mas não: deu tudo certo. E foi lindo.

Por isso, o sentimento mais fabuloso do dia 19 de setembro de 2022 me trouxe foi pisotear a sabotadora e entender que eu posso chegar a qualquer lugar.

Sobre a entrevista, em breve vocês poderão ler nossa conversa aqui em Universa.