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As mulheres estão preparadas para 'cortar cabeças' nestas eleições
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Na semana decisiva do primeiro turno da eleição presidencial, quero aqui lembrar os povos originários, verdadeiros donos e protetores destas terras, na figura de uma mulher que muito me encanta: Maria Leusa Munduruku, uma das principais forças de resistência na defesa da vida na região das bacias do rio Tapajós, no Estado do Pará.
A população Munduruku é um povo guerreiro conhecido como "cortadores de cabeça" e tem uma história de resistência e coragem diante da invasão da Amazônia pelas tropas portuguesas. Relatos datados de 1788 descrevem a ação dos Munduruku: diante de invasões, soavam uma buzina para anunciar a batalha, e dos inimigos mortos cortavam as cabeças para exibir como troféu. Isso os fazia ainda mais temíveis. Essa descrição nos mostra como eles se distanciaram da condição de passividade e agiram em defesa de suas terras, gerando medo e apreensão.
Um munduruku sabe articular passado e presente em sua jornada de luta. Não à toa, é um povo que sempre demonstrou habilidade política, que sabe traçar estratégias de enfrentamento e, até hoje, sob a liderança de Maria Leusa, estão queimando barcos de madeireiros, destruindo maquinário de garimpeiros e criando estratégias de ação ativa nas situações de confronto.
Maria Leusa sabe que o futuro será ancestral ou não será. Em suas aparições públicas faz questão de lembrar a história de seus ancestrais. "Nossa inspiração é o velho guerreiro Wakubaran, que lutou pela justiça nos primeiros tempos. Ele cortou a cabeça de seus inimigos. Nós seguimos essa linha. Se precisar, cortaremos algumas cabeças", afirmou publicamente.
Ou ela corta a cabeça de seus inimigos ou a sua será cortada. Maria Leusa já foi diversas vezes atacada por garimpeiros e por toda a sorte de criminosos que se multiplicaram durante o governo de Jair Bolsonaro.
A principal fortaleza diante deste triste governo que insiste em manter viva a lógica da exploração e da violação tem sido as mulheres. Com sabedoria e extraordinária capacidade de resistência, elas estão preparadas para cortar cabeças. De Maria Leusa à Benedita da Silva, que tem conversado com as mulheres negras evangélicas e se empenhado fortemente a alertá-las sobre o banditismo neopentecostal que se esconde por dentro das bíblias de alguns pastores. De Joênia Wapichana, primeira mulher indígena eleita a deputada federal no pais, às candidatas mães, negras e trans que se multiplicaram nestas eleições e que enfrentam com o próprio corpo um inimigo comum.
Esta eleição precisa ser nossa. Ainda que subrepresentadas na política, nós somamos o maior contingente eleitoral do país. Somos 53% do eleitorado e temos na ponta do dedo a força necessária para lutar contra homens que, nos últimos quase quatro anos, trabalharam apenas para manter um lugar no topo da hierarquia racial, social e de gênero e que só enxergam as mulheres pela lógica da posse e da violação de nossos corpos.
Pois bem: é chegada a hora de cortar cabeças.
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