Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sabedoria africana ensina: amor é união de espíritos, não importa o gênero
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Minha manhã foi inundada por uma notícia gostosa sobre o amar. O ator Igor Rickli escreveu um post em seu perfil numa rede social para assumir sua bissexualidade. Exatamente um ano depois que a sua esposa Aline Wirley dividiu com fãs e seguidores um pouco mais sobre a sua sexualidade, Igor se sentiu à vontade para contar sobre si e sobre o casal.
No post, ele afirma que os dois vivem um relacionamento aberto e que se permitem à conexão com outras pessoas.
"Celebramos a diversidade como divina. Entendemos o sexo pelo viés da saúde e não do erótico. Nossa bissexualidade só potencializa nossa relação. Curamos um ao outro na nossa dualidade. Trabalhamos para manifestar o sagrado masculino e feminino em harmonia em cada um de nós. Nos reconhecemos como parceiros e não como posse um do outro. Nossa relação é sincera, aberta e respeitosa", escreveu Igor.
Logo que li me conectei com o relato do ator e tive vontade de ser parte desse casal que admiro intensamente pela beleza, postura e comportamento. Na sequência, me lembrei das sábias palavras da escritora Sobonfu Somé, uma mulher africana generosa de Burkina Faso, país de pessoas sábias e bastante espiritualizadas na África Ocidental.
Em alguns de seus livros, Sobonfu divide conosco como se estruturam as relações entre seu povo, os Dagaras. Segundo a tradição, relacionamento é um encontro de espíritos que ignoram as convenções baseadas na dominação. Ao meu ver, os Dagaras estão em outra dimensão, entre eles as palavras "gay"e "lésbica" não existem e, no lugar dessas, eles têm "guardiães", pois acreditam que as pessoas não devem ser definidas pela orientação sexual como fizeram e fazem por aqui.
Igor e Aline estão se assumindo um casal bisexual num relacionamento não monogâmico e enriquecendo as possibilidades que a nossa sociedade acessa de refletir sobre a construção que carregamos do que é um casamento, um relacionamento e sobre o que as pessoas podem ser, gostar e amar.
Nunca me identifiquei com os valores patriarcais incutidos na ideia de que, ao dizer sim no altar para uma pessoa, eu teria que dizer sim para sempre. Eu me encontro mesmo é nos versos de Vinicius de Moraes, que desejou, ao fim de seu soneto de fidelidade, "que seja infinito enquanto dure". Talvez não dure para sempre. Que dure uma semana, algumas horas, mas que seja intenso e verdadeiro.
O para sempre só existe nos contos de fada. Na vida real, o que vemos é a infidelidade masculina patrocinada por uma sociedade conjugada a acreditar que mulheres devem perdoar seus homens por sua infidelidade, mas seus homens devem lavar a honra com sangue quando se veem traídos.
Nossa realidade, segundo o 15° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, ainda é a de quatro mulheres assassinadas a cada dia por homens que acreditam ser donos de suas companheiras: se não for minha não será de mais ninguém.
As discussões sobre monogamia, poligamia ou relacionamentos abertos são recentes em nossa comunidade. Algo ainda restrito entre um grupo belo, moderno e por mim sonhado.
É lindo eu poder me derreter com o post de Igor e me identificar. Para mim, o amor não se cerca entre duas pessoas, o amor flui, divaga, se envolve e vive de respeito pelo direito do outro ser o que ele é, amar a quem ele quiser amar e não ter sua vida definida por sua orientação sexual ou por seu gênero.
Não significa que existam maneiras corretas de amar e se relacionar. Não acredito que exista o correto para todos, mas entendo que possa existir sinceridade e liberdade entre os casais para que cada um possa ser o que deseja sem que seja julgado por seus desejos.
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