Topo

Cris Guterres

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Coach do Campari' e o universo misógino dos redpilhados

Colunista de Universa

01/03/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

À medida em que as mulheres foram derrubando barreiras legais e conquistando espaços antes proibidos para elas, o machismo foi se sofisticando e criando novas estratégias de controle do comportamento feminino. Já há alguns anos, vem ganhando força, não só no Brasil, mas em diversas partes do mundo, os movimentos masculinistas de propagação de ódio contra mulheres.

São grupos formados por homens que se declaram heterossexuais e estão em busca de hegemonia. Eles possuem uma grande presença na deep web, local onde não há fronteiras para a violência e para a barbárie. Mas uma rápida pesquisa nas redes sociais pelo termo red pill (pílula vermelha, explico melhor abaixo) retornará centenas de perfis e milhares de postagens feitas por adeptos ao movimento valorizando e incentivando o comportamento agressivo do homem.

Nos últimos dias, esse tipo de movimento ganhou repercussão nacional após a atriz e humorista Livia La Gatto expor uma ameaça de Thiago Schutz, um indivíduo que se autointitula "coach de relacionamento" do movimento red pill e usa as redes sociais para propagar conteúdo preconceituoso.

Trata-se de uma violenta reação em oposição ao feminismo. Uma pesquisa da agência de narrativas emergentes White Rabbit fez uma anália da "masculinidade hegemônica" defendida por grupos como o chamado red pill. Há um código de conduta entre eles que inclui a imagem de que homem não chora, é garanhão, se apresenta como o provedor, o macho alfa que não leva desaforo para a casa, principalmente de uma mulher.

O nome red pill é uma alusão ao filme "Matrix". Na trilogia, o personagem principal, vivido por Keanu Reeves, recebe duas pílulas, uma vermelha, que o permite ter consciência da realidade em que vive; e uma azul, que o transporta para a vida num mundo de ilusões. No imaginário fértil dos misóginos das pílulas vermelhas, eles seriam os homens que precisam salvar o mundo de um movimento que favorece as mulheres, sempre vistas por eles como infiéis e aproveitadoras. Já os homens que não concordam com a filosofia do grupo são chamados de blue pills (pílulas azuis), que seriam o "gado" corrompido pelo sistema.

Pode mudar o nome do grupo, mas em comum a todos está o ódio contra as mulheres, o racismo e a homofobia. O avanço deles constitui uma ameaça à sociedade.

Na contramão dos extremistas temos muitos homens que estão se permitindo mudar, revendo seus comportamentos, suas masculinidades. Existem algumas iniciativas, grupos que utilizam a fala e a escuta como possibilidades de reestruturação de um comportamento nocivo não só às mulheres, mas a toda a sociedade.

Falo de homens que estão se permitindo ao autocuidado, ao cuidado de seus filhos e se unindo às mulheres na luta por políticas de igualdade de gênero. Esses são os atores que precisamos no combate aos redpilhados e aos sujeitos que se escondem atrás dos estereótipos de "coaches de masculinidade e de sedução" para propagar ódio e ameaçar a vida das mulheres.