Cátia Fonseca de biquíni aos 54 choca mais do que Al Pacino pai aos 83?

Nesta semana queria escrever um texto tranquilo e motivacional, mas meus colegas jornalistas não me deram essa folga. Estava eu ali de boa no sofá rolando o feed do Instagram quando me dei conta de uma série de reportagens com títulos preconceituosos sobre a apresentadora Cátia Fonseca.

"Aos 54 anos, Cátia Fonseca exibe corpão de biquíni em clique inédito", dizia a "Contigo!". A "Glamour" escreveu "Cátia Fonseca surge de biquíni e choca fãs com sua boa forma". A "Caras" anunciou: "Aos 54 anos, Cátia Fonseca faz rara aparição só de biquíni em dia na praia: muito gata".

Você consegue perceber como a escolha das palavras e o destaque na idade de Cátia é mais uma demonstração de desigualdade na abordagem da velhice entre homens e mulheres por parte da mídia? Se sua resposta for não, te ajudo a entender.

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No mesmo dia, continuei rolando o feed do Instagram e a próxima reportagem que leio é da "Veja" dizendo que os atores Al Pacino e Robert De Niro serão pais. O título: "Uma crescente ala masculina encara o desafio de ser pai aos 50 anos, a exemplo de De Niro e Al Pacino". Não parece haver problema algum no título, não fosse o fato de que eles têm 79 e 83 anos, respectivamente.

Enquanto a idade de Cátia é usada para salientar um susto, a idade de De Niro e Al Pacino é diminuída em três décadas.

Uma mulher de 54 anos usando biquíni na praia é, portanto, mais chocante do que um homem de 83 se tornando pai com uma parceira 50 anos mais jovem.

As reportagens são utilizadas para incentivar essa jovialidade, que nos custa um preço muito alto: liberdade e saúde mental. Também exerce grande influência na construção da imagem das mulheres e na forma como são retratadas e percebidas pela sociedade.

Enquanto homens com mais de 50 anos são representados como charmosos ou poderosos, e as notícias estão quase sempre atreladas ao sucesso financeiro e profissional, mulheres são cobradas por sua juventude, beleza e sensualidade.

Mulheres com mais de 50 anos vestem biquíni, seja ele fio dental ou hot pant. Elas vão à praia, tendo um corpo magro ou não. Fazem exercício físico, transam, vivem amores e desamores. Além disso, elas estão liderando movimentos que promovem a aceitação do envelhecimento e a celebração da diversidade. Estão rompendo com os padrões de beleza estreitos e inspirando outras mulheres a abraçarem a idade e a se sentirem orgulhosas de quem são.

Em breve terei 50 anos num país etarista como o nosso. Aos 42, me pego inúmeras vezes driblando a idade com cremes, tintas de cabelo e procedimentos estéticos. A pressão pela juventude me afetou ao longo de toda a vida, mas também não me julgo. Seguimos autênticas e esbanjando confiança, experiência e independência.