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Cris Guterres

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mulher só é feliz se for mãe? Não para 37% das brasileiras

Colunista de Universa

19/07/2023 04h00

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Se tem uma coisa que afirmo sem medo e sem dúvidas é que ser mãe é f0D@. E mesmo em casos como o meu, em que a maternidade foi uma escolha, continua sendo um desafio imenso. Será por isso que em todo mundo, inclusive no Brasil, o número de mulheres que não desejam ser mães vem aumentando ano a ano?

Uma pesquisa de 2020 da Associação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, em parceria com a Farmacêutica Bayer, apontou que 37% das mulheres não sonham com um bebê fofinho e cheiroso no colo. É a geração NoMo, termo já utilizado há alguns anos que vem do inglês "No Mother", ou seja, não mães.

Os motivos para a escolha da não maternidade são inúmeros e vão desde questões financeiras e profissionais a falta de vontade de ter filhos. Sim, existem mulheres que nem sequer sentem vontade de ser mães. Não se espante.

Embora a sociedade sempre tenha enfiado goela abaixo que a maternidade é o complemento que falta para a felicidade feminina, muitas de nós já descobrimos que esta é uma das maiores falácias do machismo.

Veja bem: não estou dizendo que ser mãe é ruim, só estou chamando sua atenção para refletir se é tão maravilhoso e instintivo assim como nos contaram.

Por exemplo, me responda se você for mãe: sua maternidade está num paraíso emocional de perfeições e romantismo? Seja sincera com você mesma na sua resposta porque a minha eu já sei: é um belo de um não. Amo meu filho, amo ser mãe dele, mas tem dias que me sinto cansada e angustiada, e esses sentimentos não são bons e nem me preenchem, como disseram que eu me sentiria preenchida caso me tornasse mãe.

Tem mulheres que adorariam ser mães, mas quando refletem sobre os desafios de se criar um filho, acabam desistindo mesmo diante da vontade. E aí, nesse momento, contar à família e aos amigos sobre sua escolha de não ter herdeiros pode ser interpretado como egoísmo, desequilíbrio emocional e infelicidade.

Uma mulher que declara "eu não quero ter filhos" costuma ouvir que é louca ou não pensou direito, que vai mudar de ideia mais para frente ou que só está dizendo isso porque nunca se apaixonou de verdade. Aliás, essa última é a frase que mais me intriga. Dados os números alarmantes de abandono paterno nesse país, era mais significativo que nós fossemos desencorajadas a engravidar em meio a uma paixão fulminante.

Há quem diga que, sem filhos, você não terá ninguém para te ajudar quando a velhice chegar, como se filho fosse a certeza de carinho e acolhimento na terceira idade. Não é.

Minha mãe me dizia: "Você não precisa de filhos nem de homem para ser feliz". E só hoje, sendo mãe, é que entendo exatamente o que ela queria me dizer: "Amo meus filhos, mas também seria feliz sem eles".

Esse é o caso da minha mãe, mas cada mulher é única e tem o direito de fazer suas escolhas. Maternidade deveria ser uma escolha, mas num país com imensas desigualdades sociais, com políticas públicas de contracepção e planejamento familiar ineficientes, números alarmantes de estupros e aborto criminalizado, a maternidade está longe de ser uma escolha para a grande maioria das mulheres brasileiras.

Talvez nós sejamos a primeira geração de mulheres que conversa abertamente sobre ter ou não filhos. E as que optam por não serem mães têm razões diversas para essa decisão.

É essencial reconhecer que nem todas as mulheres sentem uma inclinação natural ou um desejo de serem mães, e isso é perfeitamente aceitável. Em vez de pressioná-las a se conformarem às expectativas da sociedade, devemos apoiar e respeitar suas escolhas, quer envolvam a maternidade ou não.