Estamos mais ansiosas e sobrecarregadas: como podemos viver com plenitude?
Como você lida com a ansiedade? Quanto tempo faz que você não deita a cabeça no travesseiro e dorme com tranquilidade sem acordar no meio da noite pensando na lista de tarefas que você não conseguiu cumprir? Talvez você me responda que não é uma pessoa ansiosa e que vive a vida com tranquilidade e equilíbrio emocional. E eu, ao ouvir isso, vou ligar o botão da inveja, pois estou cada vez mais ansiosa e as pessoas ao meu redor também.
Meu filho, minha melhor amiga, meu vizinho, minha chefe, minha tia e eu. Uma legião de ansiosos no país do Rivotril. Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgados em 2019, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Um em cada dez brasileiros sofrem com o transtorno: são quase 19 milhões de brasileiros diagnosticados e a prevalência da doença é maior entre as mulheres e jovens entre 18 e 24 anos.
Eu entrei para as estatísticas que avaliam os índices de transtornos mentais no país. Me sinto irritada, triste, nervosa, minha mente produzindo uma enormidade de fake news sobre o futuro e tudo ao mesmo tempo agora. Há alguns dias, tive um colapso durante uma viagem a Salvador. Depois de ter passado por várias situações desafiantes durante as semanas anteriores, eu travei com a notícia, uma hora antes da viagem, do cancelamento da casa onde eu me hospedaria. Me vi sem saber o que fazer diante de uma situação aparentemente simples — entrei numa espiral de emoções onde eu só chorava copiosamente.
Não é frescura: é esgotamento, é sobrecarga de trabalho dentro e fora de casa, pressão financeira e o desafio da rotina de cuidados de pessoas da família de diferentes gerações.
Um estudo sobre esgotamento realizado pela ONG Think Olga apontou que 48% das brasileiras sofrem com uma situação financeira inadequada. Dentre elas, 28% se declaram como única ou principal responsável financeira do lar e 57% das entrevistadas que estão entre 36 e 55 anos de idade são responsáveis pelo cuidado de alguém.
Eu sou esta mulher, apesar de ter uma situação financeira que me permite ter confortos como alimentação de qualidade e acesso a tratamentos de saúde adequados, eu estou entre os 86% das brasileiras que consideram ter muita responsabilidade. A mesma pesquisa apontou que 55% das mulheres no país se sentem ansiosas, 49% estressadas, 39% irritadas, 28% se sentem exaustas, 28% com baixa autoestima e 25% se sentem tristes.
É um círculo vicioso que nos tritura e nos impede de viver com plenitude. A sobrecarga nos deixa irritadas e exaustas e uma mulher exausta não tem energia para pensar em cuidar de si própria, aliás nem sobra tempo. Com a ausência do cuidado vem a nossa baixa autoestima e consequentemente a tristeza. Mulheres tristes não conseguem lutar por liberdade e pelo direito ao bem viver. A luta necessita da nossa autoestima, pois é por meio dela que pulsa a vida.
E nesse malabarismo sobre-humano que a maioria das mulheres faz diariamente, equilibrando trabalho, família, estudos e mais um monte de coisas na vida, tem algumas que fazem isso numa corda bamba, com pesos extras em cada ponta e nós sabemos exatamente quem são. Aquelas cuja situação financeira não permite terceirizar serviço doméstico e cuidado de familiares, aquelas que se veem ainda mais doentes acometidas por racismo e diferentes preconceitos .
É fundamental abordar a ansiedade de forma inclusiva, considerando as nuances de gênero e promovendo uma compreensão mais ampla dos fatores que influenciam a experiência da ansiedade e de outros transtornos mentais como o esgotamento. Ações voltadas para a promoção da saúde mental devem ser sensíveis às diferentes formas como lidamos e buscamos apoio para enfrentar essa condição.
O sofrimento entre as mulheres é uma preocupação de saúde pública, e a compreensão das diferenças entre gênero, raça e condições socioeconômicas na manifestação e na busca por tratamento é essencial para o desenvolvimento de políticas e programas mais eficazes que atendam às necessidades de toda a população.
Deixe seu comentário