Cris Guterres

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Opinião

Mulheres que derrubam pratinhos: é hora de aliviar a pressão

Quantas vezes você se pegou correndo contra o tempo, tentando equilibrar trabalho, família, saúde e tantas outras responsabilidades que parecem nunca diminuir?

A metáfora dos pratinhos girando, que tantas de nós usam para descrever nossa rotina diária, ilustra perfeitamente o desafio contínuo de manter tudo em harmonia. Mas, todos os dias eu venho repetindo um mantra sagrado pra mim em frente ao espelho: Cristiane, está tudo bem em não ser perfeita. Está tudo bem em deixar alguns pratinhos caírem.

Ser mãe de um jovem adulto e auxiliar em seus desafios de vida, criar em rotinas exaustivas de trabalho, o cuidado de um irmão com deficiência intelectual e o trabalho doméstico necessário para nossa existência me deixam sempre com a ingrata sensação de que eu sou incapaz de dar conta das minhas tarefas.

Estudos mostram que mulheres, especialmente aquelas que já passaram dos 40 como é o meu caso, enfrentam uma sobrecarga significativa. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o estresse crônico afeta 25% das mulheres trabalhadoras. Este número não apenas reflete a intensidade das demandas diárias, mas também ressalta uma realidade importante: o limite humano tem um ponto de ruptura e o meu está bem próximo.

A culpa não é nossa. A sobrecarga de trabalho é mais acentuada entre mulheres, e se agrava ainda mais quando olhamos raça e classe. De acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mulheres negras são as que mais sofrem com a dupla jornada, compreendendo as responsabilidades profissionais e domésticas. Esta realidade não apenas escancara a persistência de desigualdades raciais e socioeconômicas, mas também reforça a urgência de abordarmos estas questões com seriedade e compromisso.

Por isso estou escrevendo este texto, para que a gente possa entender o que está a nosso alcance quando o assunto é cuidar de nós mesmas. Eu quero reforçar um conceito: "Mulheres que Derrubam Pratinhos". A ideia aqui não é glorificar a queda, mas sim humanizar a inevitabilidade dela. Deixar cair não é falhar; é reconhecer que somos humanas e que precisamos de espaço para respirar e viver bem.

Mais do que isso, é essencial que reconheçamos os sinais de nosso corpo e mente pedindo uma pausa. A saúde feminina é muitas vezes colocada em segundo plano, mas é vital dar atenção às nossas necessidades. Quantas vezes você negligenciou o cuidado da sua saúde enquanto estava cuidando do seu filho ou de qualquer outra pessoa que estava sob sua responsabilidade? A carteirinha de vacina dos nossos bebês em dia e a nossa nem sabemos onde está, sei bem como é isso.

Ao compartilhar essas reflexões, quero que você sinta-se encorajada a priorizar seu bem-estar e aceitar que, às vezes, alguns pratos vão e devem cair. Isso não diminui quem você é; pelo contrário, mostra sua capacidade em reconhecer e respeitar seus próprios limites.

Então, da próxima vez que você se sentir sobrecarregada, lembre-se: não é sobre quantos pratinhos você está girando, mas como você se sente ao girá-los. Permita-se a liberdade de priorizar, delegar e, mais importante, cuidar de si mesma. Porque no final do dia, o mais importante pratinho que você precisa manter girando é você mesma.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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