Cris Guterres

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Opinião

Esposa troféu: uma rotina de sonho ou conto de fadas com data de validade?

Acordar sem despertador, ir pra academia, fazer massagem e dar umas voltas no shopping sem se preocupar com a fatura do cartão. Essa é a rotina dos sonhos da "esposa troféu" que está bombando no TikTok e outras redes sociais.

Uma busca rápida e você vai encontrar uma infinidade de vídeos de mulheres jovens, magras e brancas, todas orgulhosas de serem bancadas pelos maridos. A dependência financeira do parceiro é um dos pilares que sustentam essa vida de "conto de fadas".

A "esposa troféu" das redes sociais não trabalha fora e depende do parceiro para bancar seus luxos. Em cada post, elas mostram a rotina, as viagens pelo mundo, fazem tour pelas casas enormes e se gabam dos procedimentos estéticos e transformações físicas que fazem paa manter a aparência jovem e bonita para o maridão.

Mas será que isso é só uma escolha pessoal por um estilo de vida desejável para algumas mulheres, ou um reflexo de uma sociedade que ainda valoriza a mulher pela aparência e capacidade de agradar ao homem?

Em 2024, a luta pela igualdade de gênero nos levou a defender o direito das mulheres fazerem suas próprias escolhas, inclusive ser uma "esposa troféu". Mas é importante olhar mais fundo e avaliar as questões que vão além de uma trend de redes sociais.

A maioria dessas influenciadoras são brancas, magras e muito jovens, reforçando um padrão de beleza eurocêntrico e excludente. É difícil ver mulheres fora desse padrão se autointitulando "troféu". Isso reforça um tipo específico de beleza, excluindo quem não se encaixa nesses padrões restritivos.

Além disso, a pressão para manter a imagem perfeita é constante e pesada. A ideia de que a beleza feminina está ligada à juventude cria uma pressão enorme para se manter sempre jovem e atraente a qualquer custo. E o que acontece quando essas "esposas troféu" envelhecem? Elas vão continuar sendo valorizadas ou serão trocadas por mulheres mais jovens, como se fossem descartáveis?

Na era das redes sociais, a "esposa troféu" muitas vezes se apresenta como uma mulher empoderada, que escolheu se dedicar ao lar e à família. No entanto, essa escolha muitas vezes esconde uma realidade de trabalho doméstico invisível e não remunerado. Manter a casa impecável, cuidar dos filhos, organizar eventos sociais e atender às necessidades do parceiro demanda tempo e habilidades que não são reconhecidas como deveriam.

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Se o relacionamento acabar, ou se o parceiro decidir cortar seus privilégios você tem como manter o mesmo estilo de vida? A dependência financeira pode ser uma armadilha perigosa, que impede a autonomia e deixa a mulher à mercê das vontades do outro. Por isso, é fundamental buscar sua independência financeira.

Você tem poder decisório e acesso aos bens financeiros construídos em conjunto? A maioria dos homens acredita que o dinheiro conquistado com o trabalho dele é apenas dele e isso acontece porque ele não reconhece o trabalho doméstico que foi necessário ser feito por uma mulher para que ele pudesse ascender economicamente.

A ideia de que a mulher exerce o trabalho doméstico por amor foi criada para mascarar a exploração e a desvalorização desse trabalho. Essa dinâmica limita as oportunidades das mulheres e as impede de alcançar seu pleno potencial, tanto pessoal quanto profissional. Lembre-se: um cartão de crédito sem limites pode ser um luxo hoje, mas não garante a sua tranquilidade amanhã.

Se você se identifica com a vida de uma "esposa troféu" ou sonha com esse estilo de vida, vá em frente! Você pode ser o que você quiser e o feminismo lutou e ainda luta muito para que você tenha este direito. Mas pense bem nas implicações a longo prazo.

Invista na sua independência financeira, cultive suas próprias habilidades e tenha seus recursos. Não deixe que sua segurança e bem-estar dependam totalmente de outra pessoa. Afinal, um conto de fadas pode ter data de validade, e é essencial estar preparada para escrever seu próprio final feliz.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

13 comentários

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Carla Zimmermann Tuzin Santos

Inveja de ter sua vida completamente nas mãos de alguém que "cobra" sua juventude eterna justamente para ser troféu? Por ser troféu, justamente até os sentimentos dessa mulher passam a ser questionados. "Tá triste por quê? Melhora essa cara, você tem tudo." Eu sou esposa há 15 anos, sou mãe, sou profissional há 21 anos e me sinto absolutamente grata em poder envelhecer em paz, com meus sinais de expressão, minhas estrias após as gestações, meus cabelos brancos que a cada ano dão as caras, minhas leituras, meu cartão de crédito que é limitado sim, mas eu mesma pago. E assim, seguimos eu e meu esposo nos ajudando mutuamente, afinal, que fardo para o homem também ter que bancar todos os caprichos de alguém que precisa se manter numa vitrine.   Ainda bem que existe o livre-arbítrio!

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Silas Costa Ferreira Junior

Vou resumir em uma palavra esse textinho recheado de falácias e reclamações: IN-VE-JA.

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José Ricardo da Silveira

Ela faz o papel de mulher inalcançável que não resistiu ao novo (velho) marido e tem um “cartão corporativo” sem limites, enquanto o maltratado indivíduo se beneficia do status com os amigos e, alentado pela mágica da pílula azul, disfruta seu pitéu.Um acordo entre as partes que só diz aos dois envolvidos. 

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