E se a gente escolher não fazer nada? A arte de procrastinar com propósito
Em um mundo que nos cobra produtividade constante, o fazer nada se tornou um fardo, uma sombra que nos persegue com a culpa de não estarmos sempre fazendo algo "útil". A vida moderna, principalmente nas grandes cidades, nos impõe um ritmo frenético, onde o tempo livre é visto como um desperdício, um luxo que não podemos nos permitir. O resultado é uma sensação de ansiedade e insatisfação, uma busca incessante por algo que nunca parece ser suficiente.
"Ufa, sextou!" Quem nunca comemorou a chegada da sexta-feira com um suspiro de alívio? A gente tem essa sensação de alívio, mas me peguei pensando: será que realmente aproveitamos o fim de semana ou ele acaba sendo só uma extensão da nossa rotina de trabalho?
A gente se espreme em filas de supermercado, enfrenta o trânsito caótico, e quando finalmente chega em casa, adivinha? Estamos grudados nas telas, rolando o feed infinito das redes sociais. E quando não estamos online, estamos maratonando séries ou devorando livros, tudo em nome de "produzir mais e melhor" na segunda-feira.
Mas quando foi que a gente se tornou tão obcecado por produtividade? Quando foi que os super cafés e os "comprimidos da inteligência" viraram nossos melhores amigos? Será que estamos tão imersas nessa cultura do desempenho que esquecemos como relaxar e aproveitar o momento presente?
Ainda mais nós mulheres que, historicamente, somos responsáveis por uma carga mental maior, tanto no trabalho quanto em casa, com a gestão doméstica, dos filhos e dos cuidados com a família. A sobrecarga mental, somada às pressões sociais e culturais, pode levar a um estado constante de alerta e preocupação, dificultando o relaxamento e o descanso pleno.
É isso que eu sinto, uma incapacidade de relaxar. Quando saio de férias, passo os dois primeiros dias me sentindo culpada por tudo o que não estou fazendo. Nos dois dias seguintes, me vem a sensação de que a volta será tenebrosa, pois o tempo que estou "descansando" está me fazendo acumular tarefas que irão me esgotar no retorno. Ao invés de descansar, eu perco os primeiros dias guerreando com a minha mente.
O descanso não é sinônimo de preguiça, mas sim um tempo precioso para recarregar as energias, estimular a criatividade e, quem sabe, até ter ideias inovadoras para o trabalho. Mas parece que a gente esqueceu disso, não é verdade? Estamos sempre correndo, sempre conectados, sempre buscando a próxima tarefa a ser cumprida.
Esse texto é um convite para você desacelerar um pouco. E se a gente trocasse a maratona de séries por um cochilo no sofá, o scroll infinito das redes sociais por um mergulho no mar ou um passeio no parque? E se a gente se permitisse simplesmente "não fazer nada"?
Talvez a gente descubra que o ócio não é um vilão, mas sim um aliado poderoso para nossa saúde mental e bem-estar. Eu prefiro chamar de a arte de procrastinar com propósito. E quem sabe, no meio desse "não fazer nada", a gente encontre inspiração para ser ainda mais produtivo, mas de uma forma mais leve, mais prazerosa e mais conectada com nós mesmas.
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