Cris Guterres

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Opinião

Macaé Evaristo: a força da inclusão e o direito à humanidade para todos

Na última segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou Macaé Evaristo como ministra dos Direitos Humanos. Macaé assume a pasta com a exoneração de Silvio Almeida, após virem à tona acusações de importunação sexual e assédio moral contra funcionárias do governo envolvendo Almeida.

A nomeação de Macaé Evaristo não é apenas um marco político, ela representa algo mais profundo para a população negra no Brasil: a reafirmação do direito à humanidade.

Em uma sociedade onde, muitas vezes, o erro de uma pessoa negra é tratado como culpa coletiva, a escolha de Macaé envia uma mensagem clara de que o valor, a competência e a contribuição de pessoas negras não podem ser definidos por erros individuais, mas pela sua história, competência e capacidade de transformação.

Entenda que quando trago a palavra "erro" não pretendo sacramentar Silvio de Almeida como culpado das acusações que foram levantadas. Minha intenção é trazer à tona uma discussão já inicializada pelo movimento negro e que Sueli Carneiro, uma das mais importantes filósofas e ativistas do movimento no Brasil, definiu muito bem como "dispositivo de racialidade", ou seja, o conjunto de práticas, discursos e instituições que constroem o negro como o "outro", um ser inferiorizado e desumanizado, e que, portanto, justifica a dominação e a violência contra essa população.

O racismo não apenas marginaliza, mas também desumaniza as pessoas negras. Um ponto central do pensamento de Sueli Carneiro é a maneira como a sociedade trata a comunidade negra de forma coletiva, responsabilizando-a pelos erros de indivíduos, perpetuando a ideia de que o fracasso de um negro é um fracasso de todos os negros.

Sueli desafia essa visão ao afirmar que as pessoas negras têm o direito de serem reconhecidas como seres humanos plenos, não reduzidos aos estigmas raciais que a sociedade impõe e por isso, a nomeação de Macaé Evaristo é uma maneira de transcender a particularidade da raça, permitindo que negros sejam vistos em sua totalidade, sem serem reduzidos apenas pela cor da pele

Quem é Macaé Evaristo?

Professora e deputada estadual em Minas Gerais, Macaé tem 40 anos de experiência na educação, sendo a primeira mulher negra a liderar as secretarias de Educação em Belo Horizonte e no estado de Minas Gerais. Com uma trajetória marcada pelo combate ao racismo e pela inclusão social, ela trabalhou no governo Dilma promovendo políticas de cotas para negros e indígenas. Prima de Conceição Evaristo, Macaé é uma referência nos debates sobre igualdade racial e educação.

Inspiração para Mulheres Negras

Para milhões de mulheres negras brasileiras, Macaé Evaristo é um símbolo de resistência e sucesso em espaços de poder. Sua trajetória, marcada por desafios e conquistas, inspira aquelas que lutam por reconhecimento e justiça em uma sociedade que ainda impõe barreiras ao avanço das mulheres negras. Ao ocupar o Ministério dos Direitos Humanos, Macaé fortalece o papel das mulheres negras na política brasileira e abre caminho para que mais delas possam sonhar com posições de liderança.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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