Ser mãe de jovem negro é sentir dor ao saber que ele é ameaça para o Estado
Sob o governo de Tarcísio de Freitas, o estado de São Paulo vive um cenário devastador para adolescentes negros e periféricos.
Segundo dados do Instituto Sou da Paz, desde janeiro de 2023, 69 adolescentes entre 14 e 17 anos foram mortos pelas polícias civil e militar. Esses números não são apenas estatísticas: são vidas interrompidas, famílias devastadas e sonhos destruídos.
O aumento da letalidade policial no atual governo é alarmante. Em 2022, sob a administração anterior, foram 24 mortes de menores de 18 anos. Esse número saltou para 38 em 2023 e, até setembro de 2024, já eram 31. Em 2023, 68% dos adolescentes mortos eram negros ou pardos. Mais do que números, esses dados refletem a dor de mães que vivem o luto diário pelo simples fato de terem filhos negros.
Ser mãe de um jovem negro no Brasil é carregar uma dor que poucas pessoas compreendem. É viver em alerta constante, sabendo que, para o estado, ele não é visto como um jovem com sonhos e direitos, mas como uma ameaça. Cada notícia de violência policial é um lembrete cruel de que, neste país, a cor da pele pode ser uma sentença de morte.
Essa violência é um sintoma evidente de um racismo estrutural que organiza nossas instituições e perpetua a desigualdade. Jovens negros são vistos como símbolos do perigo e da ameaça desde a infância. A criminalização da pobreza, aliada ao perfilamento racial, arma a polícia com justificativas para abordar, agredir e, frequentemente, executar.
A polícia não age em um vácuo, ela opera em um sistema desenhado para proteger interesses de classe e raça. Nas periferias, onde a presença do estado muitas vezes se resume à violência, os jovens são tratados como inimigos. Operações truculentas em favelas e bairros pobres revelam uma política de segurança pública que não busca proteção, mas controle. E controle, nesse contexto, significa eliminação.
E esta mesma polícia ocupa um lugar paradoxal e trágico: é a que mais mata e também a que mais morre. Uma realidade que expõe a falência de um modelo de segurança pública baseado no enfrentamento e na força excessiva. Policiais, em sua maioria oriundos de periferias, também são vítimas desse sistema que sacrifica seus agentes enquanto negligencia políticas de prevenção e proteção. A violência que eles praticam e sofrem faz parte de um ciclo que desumaniza todos os envolvidos e só beneficia o alto escalão do estado.
Para enfrentar essa letalidade, é preciso um esforço coletivo para desconstruir o racismo estrutural. Isso inclui reformas profundas na polícia, com treinamento em direitos humanos, revisão de práticas de abordagem e implementação de políticas públicas que combatam a desigualdade racial e social. Também é essencial abandonar a retórica bélica de líderes políticos e fortalecer os mecanismos de investigação e punição para abusos policiais.
Casos como os de Ágatha Félix, de 8 anos, e Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, no Rio de Janeiro, mostram que a impunidade perpetua essa violência. Ambos foram mortos em operações policiais letais, e seus assassinos, absolvidos. Em São Paulo, a resposta de Tarcísio de Freitas sobre abusos na Operação Verão, que quintuplicou o número de mortes na Baixada Santista, foi a frase debochada: "Pode ir na ONU que não tô nem aí."
O que está em jogo não é apenas o futuro da juventude negra, mas o compromisso do Brasil com os direitos humanos e a justiça. Cada morte de uma criança ou jovem é um grito contra a indiferença de um estado que precisa urgentemente mudar. É hora de repensar o modelo de segurança pública e garantir que vidas negras importem na prática, porque nem nos discursos ela está mais importando.
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