Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mulher que denuncia ex por agressão quer só ganhar dinheiro e aparecer?
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Depois de ser apontado como agressor, o tenista Thiago Wild contra-atacou: disse que sua ex-companheira, a influenciadora Thayane Lima, que o denunciou por violência doméstica, tentou extorqui-lo.
No começo de junho, a equipe de Wild divulgou um comunicado à imprensa informando que o tenista foi ao Rio de Janeiro, após competir em Roland Garros, para prestar depoimento, e falam também de uma suposta tentativa de Thayane de tirar dinheiro dele, sem dar detalhes. Informam, apenas, que há uma investigação policial em andamento.
A primeira reação de muita gente ao ouvir isso é questionar a mulher: será que ela pediu mesmo dinheiro? Será que só está querendo aparecer?
A ideia de que as mulheres fazem acusações mentirosas em troca de dinheiro é tão disseminada que transforma vítimas em alvo. Elas chegam a abrir mão da indenização a que têm direito na tentativa de neutralizar esses ataques —como no caso da garota que denunciou Daniel Alves. Seu nome não veio a público, e mesmo assim ela divulgou que não aceitará reparação financeira.
Uma das maiores especialistas do Brasil em violência contra a mulher, a promotora de Justiça de São Paulo Silvia Chakian costuma dizer: há mais de duas décadas nessa área, nunca encontrou uma mulher que tenha levado qualquer vantagem ao denunciar um homem. A falsa acusação até existe, mas seu número é ínfimo. Muito mais frequentes são as verdadeiras acusações tratadas com desconfiança.
As mulheres sabem que, ao denunciar, têm suas vidas expostas e suas palavras questionadas. Não raro, perdem renda e não conseguem voltar ao mercado de trabalho. Os processos se arrastam por anos, muitas vezes sem que os agressores sejam punidos.
Quando se conheceram, em 2019, Thayane Lima era uma influenciadora com quase 2 milhões de seguidores, que vivia de seu conteúdo e do dinheiro com publicidade. Thiago Wild era um tenista em ascensão, que, segundo ela, pensava em deixar a promissora carreira — o que não fez por insistência e incentivo da namorada.
Desde que começou a se relacionar com ele, ela perdeu meio milhão de seguidores. Thayane me contou que, quando estavam juntos, "Thiago não deixava postar muito". "Então me disciplinei a não postar", diz.
"É como se ele tivesse me ensinado que não é legal você colocar sua vida toda no Instagram, sabe? E, por mais que agora eu poste muito pouco, quando o faço ainda recebo mensagem de hater."
O ódio fez com que fechasse seu perfil, o que deixa seu trabalho nas redes ainda mais restrito. Ela não tem saúde mental, como diz, para ficar lendo que é "mentirosa, oportunista e interesseira". Diz que não quer fama nem dinheiro, e sim sua sanidade mental de volta.
O que Thayane pediu, na verdade, foi uma pensão para reestruturar e retomar a vida que tinha antes de se conhecerem. Sim, ela pediu dinheiro, mas porque, segundo me contou, o ex a proibiu de trabalhar.
Depois que se separaram, ela passou a morar de favor em casa de amigos, situação que continua agora, enquanto tenta fixar residência nos EUA.
"Não só não tive vantagem nenhuma em denunciar como tive que parar minha vida, mudar de país, ficar longe da minha família e dos meus amigos. Não consigo me relacionar, sou cheia de traumas. Se ganhei alguma fama, foi negativa. Só ganhei doença mental e prejuízo com remédio."
Procurado, Thiago Wild não quis dar entrevista. Seus advogados de defesa, Paula Cidri Wolff e Rafael Fabrício de Melo, afirmaram que não é o momento de tratar dos detalhes da acusação de extorsão, "pois pode atrapalhar o trabalho das autoridades". E dizem que irão comprovar sua inocência.
Questionada sobre os prints que mostram o tenista humilhando a ex —ele a chama de "lixo", "quenga" e "piranha", entre outras ofensas—, a defesa respondeu que "muitos se sentem à vontade para julgar esse caso com base em mensagens soltas ou supostos prints". Essas pessoas, dizem os advogados, "tomarão um grande susto ao perceber que tomaram as dores do lado errado da história".
"A verdade está sendo discutida na Justiça. A imprensa e as redes sociais não são tribunais e não deveriam se prestar a isso. Vale lembrar que o ator Johnny Depp foi indenizado pela difamação que sofreu de Amber Heard."
Curioso o exemplo escolhido: no caso Depp x Amber, os tribunais da mídia e das redes foram essenciais para o desfecho na Justiça americana. Já na Justiça britânica, na qual o ator processou um jornal por tê-lo chamado de "espancador de esposa" ("wife beater"), Depp perdeu. No Reino Unido, a Justiça considerou haver provas da violência doméstica apontada por Heard.
Quem está do lado errado da história?
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