Cristina Fibe

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Opinião

Nunca estivemos tão cansadas: quais são as razões para o esgotamento?

Ansiosas, irritadas, estressadas e com medo. Esgotadas. Essa sensação que a gente tem de estar sobrecarregada, de que não vai dar conta e de que ainda por cima não atende aos chamados padrões estéticos é coletiva.

A tendência é individualizar esses sentimentos — eu penso que é um problema meu, e aí também cabe só a mim resolver. E me sinto pior ainda por não conseguir.

Mas uma pesquisa da ONG Think Olga lançada nesta semana mostra que se trata de um problema coletivo. Que demanda soluções coletivas.

Depois de entrevistar 1.078 mulheres, de 18 a 65 anos, em todos os estados do Brasil, a organização chegou a resultados que confirmam isso:

  • 45% das brasileiras já foram diagnosticadas com algum transtorno mental;
  • 86% das mulheres consideram ter muita carga de responsabilidades;
  • Entre os sentimentos frequentes no dia a dia, estão ansiedade (55%), estresse (49%); irritabilidade (39%); baixa autoestima, sonolência e fadiga (cada uma foi citada por 28% das entrevistadas). Insônia, perda de interesse e tristeza também aparecem;
  • Questionadas sobre o nível de satisfação com diversas áreas da vida, das relações familiares à situação financeira, as mulheres revelam não estar minimamente satisfeitas com nada. Todo esse estresse, e para quê? De zero a 10, a média mais alta que aparece é 3,2 (relações amorosas);
  • Entre os fatores que levam a essa insatisfação estão a situação financeira apertada (48%), dívidas (36%) e baixa remuneração (32%); também aparecem causas como pressão estética (26%), excesso de redes sociais (22%) e a percepção de "não poder viver de acordo com quem sou de verdade" (21%);
  • E tem o medo. Medo de ficar desempregada (18%) ou de ser demitida (11%), medo de ser malvista ou mal falada (18%) e o medo constante de sofrer violência (16%).
  • Por tudo isso, o título do relatório do Think Olga é "Esgotadas". Estamos exaustas e com a saúde mental comprometida. A ONG conclui que a responsabilidade por isso deve ser compartilhada, ou seja, a preocupação não deve ser só individual, mas da sociedade civil, dos setores público e privado.

O medo de sofrer violência é um exemplo disso. Na pesquisa, aparece em 16% das entrevistadas, mas arrisco dizer que muitas não admitem nem pra si mesmas que ele sempre nos ronda.

Não pensamos nisso o tempo todo pro mundo não ficar insuportável. A gente dribla, segue, finge que tá tudo bem. Até farejar a próxima ameaça. Como já comentei aqui, não estamos seguras nem na escola, nem na igreja, nem dentro de casa. Nem no hospital.

O relato da ex-ginasta Laís Souza na entrevista ao ex-BBB Rodrigo Mussi, no "Café com Mussi", é a triste comprovação disso. A crueldade é tanta que Laís foi violentada sexualmente depois de ter o seu corpo paralisado por um acidente. Tetraplégica, "supervulnerável" e dependente de curadores, sofreu abusos cometidos por homens e mulheres, "a maioria quando estava quase dormindo".

Quando uma mulher presa à cama de um hospital é violentada, a responsabilidade é coletiva. A solução é muito mais complexa do que apenas punir agressores e agressoras. Passa por educação sexual e por políticas de prevenção e enfrentamento, nos âmbitos público e privado.

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Garantir a dignidade da mulher é só um dos aspectos pra melhorar a nossa saúde mental. O relatório da Think Olga mostra que ainda há inúmeros fatores que exigem atenção. Um longo, mas necessário caminho.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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