Cristina Fibe

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Corajosa, Mariana Goldfarb alerta que príncipe pode virar sapo

Quando a nutricionista e apresentadora Mariana Goldfarb expôs, para 1 milhão de seguidores, ser uma sobrevivente de relacionamento abusivo, já havia comentaristas de plantão para defender o seu ex:

"Não deve ser o Cauã?" "Gente, ela já teve vários relacionamentos, por que acha que está falando dele?" "E se realmente não for ele? Ela está sendo mais do que injusta, chega a ser covardia..."

Mariana Goldfarb e Cauã Reymond pareciam ser, de 2016 a 2023, o casal perfeito. O tipo de casal que desperta inveja ao mesmo tempo em que alimenta o sonho do "felizes para sempre". O tipo de homem bonito, simpático e talentoso que faz a gente ter esperança de que tal fenômeno possa realmente existir.

E talvez possa. Mas beleza e carisma não são garantia de relacionamento saudável. E fazer vista grossa pras violências não ajuda os homens a evoluir — e nem as mulheres a se libertar.

Mariana não usou nomes ao falar de sua experiência, e nem é meu papel especular. Deixemos, então, a fofoca de lado para focar no importante alerta dado pela influenciadora.

Depois de sair de um relacionamento "muito abusivo", ela usou as redes sociais para explicar o que, afinal, é isso: "te impede de ser quem você é; vai na sua essência, em como você se reconhece no mundo".

Mariana está falando de violência psicológica, algo difícil de reconhecer e também de legitimar. A tendência, de nós mesmas e de quem está em volta, é diminuir a importância dos abusos que não são físicos ou sexuais.

Mas, como ela disse, os danos à saúde mental são bem palpáveis. "Você imagina conviver com alguém que julga o teu jeito como errado, que te critica constantemente? Você começa a se sentir impotente, incapaz."

E então, afirmou, você passa a relação tentando se encaixar. "E nunca vai estar certo."

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O desabafo de Mariana nas redes aconteceu uma semana depois de ir ao ar um episódio do seu podcast C/Alma, em que recebeu a psicanalista Manuela Xavier.

No bate-papo, ela deu mais detalhes do que sofreu e de como conseguiu sair do ciclo de violência, que nunca começa abusivo. Quem te encanta é um príncipe, depois é que ele vira sapo.

"Eu lembro que eu chegava na terapeuta com questões de autoestima. Eu nunca acreditava em mim, no meu próprio discernimento, na minha potência de realizar as coisas. E ela falava, 'é difícil acreditar em você quando tem alguém falando que você é uma merda 24h por dia'."

Mas ele "dá umas migalhas pra te manter, pra você falar, 'não é tão ruim'", e assim, com a saúde mental em frangalhos, você vai ficando. E tentando se moldar.

"Eu fiz muita coisa. Botei silicone, fiz um monte de coisa na cara, preenchimento. Depois eu tirei, porque não era meu rosto, eu não me reconhecia."

Ela contou que começou a perceber que tinha algo errado e começou a estudar. Leu "Mulheres que correm com os lobos", de Clarissa Pinkola Estés, e teve uma crise de choro ao chegar no conto "Barba azul". "Eu falava: ou eu saio ou eu vou morrer."

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Mariana saiu. E, mesmo exposta a críticas de quem não entende nada sobre os mecanismos dos relacionamentos abusivos, dividiu sua história para ajudar outras mulheres. É difícil mesmo sobreviver, mas muito mais doloroso é deixar de existir em prol da ideia de um amor perfeito.

Quando aparecer um príncipe com cara de encantado, faça-se um favor: olhe os seus relacionamentos anteriores. Ouça as mulheres que vieram antes. Embarque com cuidado, pra não perder o chão.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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