Cristina Fibe

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Opinião

Parças: Daniel Alves ajudou Robinho (a ser preso)

Onze anos depois do crime, e dois anos depois de ser condenado em última instância pelo estupro coletivo de uma mulher de 23 anos, um dos maiores jogadores do país, agora ex-jogador, está preso. Um ídolo do futebol na cadeia por ter violentado uma mulher. Isso é inédito e histórico. Mas significa que o Brasil mudou? Não, ainda não.

Então, o que aconteceu para pavimentar o caminho de Robinho até Tremembé?

Duas coisas foram fundamentais para isso. A primeira foi a divulgação, pelos repórteres Janaina Cesar e Adriano Wilkson, aqui do UOL, dos grampos do Robinho. O podcast fez com que o Brasil inteiro pudesse escutar o desprezo, o desrespeito e a violência com que ele e os seus amigos tratam a vítima e, por tabela, todas as mulheres. Foi esse trabalho que movimentou a opinião pública e fez com que o Superior Tribunal de Justiça marcasse a análise da sentença, que foi feita a pedido da Itália e estava parada por ali.

E aí, aconteceu um segundo fator. Aconteceu o Daniel Alves. Aconteceu outro estupro cometido por um célebre jogador brasileiro no exterior. Também numa boate. Também contra uma mulher de 23 anos.

A Espanha deu um exemplo de atendimento adequado à vítima, de proteção da sua identidade e de punição na Justiça. Agora Daniel Alves também está preso, tentando desesperadamente fazer uma vaquinha para pagar sua fiança. Mesmo que saia da cadeia, sai com a sentença de estuprador e, depois de todos os trâmites legais, se não fugir também, vai sim voltar para prisão.

A comoção internacional diante do caso Daniel Alves chamou a atenção para naturalização do estupro no mundo do futebol - e também para vergonha que o Brasil tem passado no que diz respeito à violência contra a mulher.

Dois jogadores brasileiros estupram mulheres no exterior e são punidos só lá fora - o STJ percebeu que não pode ser assim. Depois de ser ajudado por Neymar a ter sua pena reduzida, Daniel Alves ajudou, por tabela e sem querer, o Robinho a ir para prisão.

É uma semana, sim, histórica, como bem disse a Milly Lacombe. Agora, a gente precisa continuar falando - o silêncio dos jogadores homens deste país, exemplos para meninos e adolescentes, é violento. A falta de posicionamento e atitude da CBF é sinal de que o órgão é conivente e cúmplice. Quem mais vai ter que ser estuprada para o mundo do futebol mudar?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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