Cristina Fibe

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Opinião

A violência em uma imagem: a cabeça erguida de Daniel Alves

As imagens, às vezes, falam mais do que uma sentença.

A Justiça espanhola considerou Daniel Alves culpado por estuprar uma mulher de 23 anos. E não só isso: ficou comprovado que ele agarrou abruptamente a vítima, a jogou no chão e, evitando que ela pudesse se mover, a penetrou. Ela dizia não, pedia para ele deixá-la ir embora.

Não houve consentimento, mas sim violência. É o que diz a sentença. Com machucados nos joelhos, ela precisou de curativos. A Justiça reconheceu que, por causa dos atos de Daniel Alves, a vítima ficou com sequelas físicas e psicológicas.

Ainda segundo a decisão, ela teve medo de denunciar e nenhuma intenção de ganhar dinheiro com o crime. A advogada dela, inclusive, chegou a dizer que preferia uma indenização menor e uma pena mais alta do que os quatro anos e meio a que Daniel Alves foi condenado.

Enquanto recorre e segue agarrado à quinta versão que deu para o caso — a de que estava bêbado demais —, o ex-ídolo do futebol conseguiu liberdade provisória.

Saiu da cadeia de cabeça erguida. Com passos firmes e mascando o que parece ser um chiclete, exalou todo o desdém que sente pela vítima e, por tabela, por todas as mulheres.

A empáfia de Daniel Alves falou mais alto do que os protestos em seu entorno, na saída da prisão. Ficamos surdas e mudas diante do seu olhar altivo e arrogante, sua roupa bem alinhada, seu rosto impávido que diz: não estou nem aí.

Na quinta-feira, precisou voltar ao tribunal para se apresentar, uma demanda da Justiça para evitar que fuja. E repetiu a cena do início da semana — postura ereta, rosto calmo, um leve sorriso nos olhos, e o apoio simbólico de uma mulher.

Uma mulher, sua advogada, que é paga para dizer que acredita na sua inocência e pra caminhar ao seu lado enquanto ouvem vaias e gritos de "estuprador".

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A imagem de Daniel Alves livre e leve, sem arrependimento, sem dor, é um gatilho para as muitas mulheres que já foram vítimas de algum tipo de agressão sexual.

Porque, em vez de punição ou do reconhecimento do crime, o que a maior parte das sobreviventes recebe é a descrença da sua palavra, a humilhação, o atestado de impunidade garantido por uma sociedade inteira que parece não estar nem aí.

São os áudios do Robinho gargalhando de um estupro coletivo de vulnerável. É o desembargador de Goiás chamando uma denunciante de "sonsa" e dizendo que existe uma "caça aos homens". É o choro da Mariana Ferrer implorando por respeito no tribunal. É a advogada que acusa um estuprador dentro da OAB e recebe um tapinha nas costas. É o acusado que ataca suas vítimas publicamente enquanto a Justiça arrasta uma resposta até o limite da prescrição. É o empresário poderoso que violenta em série meninas e mulheres e trava o inquérito na delegacia. É o guru espiritual denunciado por centenas de fiéis que continua em casa, afirmando ser vítima de um complô.

E eu podia seguir infinitamente. Mas vai adiantar?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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