Cristina Fibe

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Opinião

Fala de amigo de Robinho é atestado da ignorância de homens agressores

Clayton Florêncio dos Santos procurou o repórter Adriano Wilkson, do UOL, pedindo para dar sua versão. Só que o amigo só topou falar quando Robinho já estava na prisão. Antes, se recusou a dar entrevista.

Agora, o interesse é mais do Robinho do que dele. As falas de Claytinho só servem para incriminá-lo também. Melhor, para ele, era ficar calado.

Claytinho era um dos cinco amigos que estavam com Robinho em janeiro de 2013, na boate Sio Café, em Milão. Segundo a polícia, a jovem albanesa foi violentada por seis homens — Robinho e Ricardo Falco, condenados pelo crime, e quatro brasileiros que não foram julgados, porque já tinham saído da Itália quando os processos foram iniciados.

O depoimento de Claytinho para o UOL é um atestado da ignorância de homens agressores sobre a gravidade dos seus crimes. Como Robinho, ele termina a entrevista pedindo desculpas a todas as mulheres que ouviram os "áudios grosseiros" coletados pela polícia italiana.

Eu, como mulher que já ouviu esses áudios várias vezes, posso dizer que não aceito esse pedido de perdão. Porque é vazio.

Porque esse grupo se recusa a pedir desculpas para a única mulher vítima do crime. E pior: continua, mais de dez anos depois, a desqualificá-la, como fazem quase todos os acusados de violência contra a mulher.

Para isso usam argumentos rasos e ultrapassados, como "ela estava com maldade" e "achei que fosse garota de programa". Como se uma mulher ter a intenção de ficar com um homem ou fazer disso a sua sobrevivência autorizasse que fosse violentada. Não autoriza.

Mas já que a falta de entendimento sobre o que se pode ou não fazer com uma mulher é tão grosseira, vou abrir aqui um glossário. Quem sabe o Robinho tem tempo de estudá-lo.

Estupro: qualquer ato libidinoso que se pratique mediante violência ou grave ameaça. Qualquer ato, ou seja, não precisa haver penetração.

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Mas não houve violência nem ameaça, eles dizem. Mas, para a Justiça, a vítima não estava em condições de oferecer resistência e muito menos de consentir. O que torna o crime ainda mais grave.

Estupro de vulnerável: praticar qualquer ato libidinoso com menor de 14 anos ou com alguém que não possa oferecer resistência. O argumento de que a vítima não estava embriagada a ponto de não poder resistir foi descartado pela Justiça.

O próprio Clayton se contradiz. Ao UOL o amigo conta que foi com a vítima para o carro depois do crime e que ela estava tonta, e começou a passar mal por causa da bebida. Pediu para falar com as amigas, vomitou, apagou no colo dele. Eles a levaram embora, Clayton disse. E assim derrubou toda a argumentação de antes, de que ela estaria em condições de consentir a atos praticados por seis amigos, em que um convocava o outro e assistia ao parceiro violá-la um pouco mais.

Ao fim da entrevista, Claytinho diz que estuprador tem que morrer na cadeia. Como ele afirma também que ama Robinho, me parece que ele não entendeu a decisão da Justiça: Robinho é um estuprador.

O estuprador, ao contrário do que diz Clayton, não é "um doente que sai por aí estuprando as pessoas". É o homem comum, que ainda não entendeu que os corpos das mulheres pertencem só a elas, e que bebida, flerte ou roupa curta não autorizam violações.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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