Mbappé muda versão e segue cartilha clássica de acusados de estupro
Nesta semana, mais um jogador de futebol mundialmente famoso se viu envolvido numa acusação de violência contra a mulher. O francês Kylian Mbappé, de 25 anos, estaria sendo investigado por estupro depois de uma rápida passagem por Estocolmo, na Suécia.
Foram os jornais locais que anunciaram, citando fontes anônimas, que Mbappé era suspeito de estuprar uma mulher no dia 10 de outubro, no hotel onde se hospedou. Dois dias depois, a vítima procurou atendimento médico e a polícia, que enviou peritos ao local na segunda-feira, dia 14.
Aos jornalistas a polícia e o Ministério Público não confirmaram que o atacante do Real Madrid é o alvo da denúncia. Mas também não negaram. Os promotores disseram apenas que investigam uma acusação de estupro ocorrido em um hotel na semana passada.
A primeira reação do jogador foi acusar a imprensa de espalhar "fake news". Sua advogada, uma mulher, foi à TV francesa dizer que desconhecia a investigação, que seu cliente estava "sereno" e que "ele nunca está sozinho".
Segundo ela, Mbappé "nunca está exposto a se encontrar numa situação em que haveria, para ele, um risco sendo assumido. Isso exclui totalmente o fato de que ele poderia ter praticado ações repreensíveis. Isso é uma certeza absoluta".
O problema é que, na maior parte dos casos, o estupro acontece entre quatro paredes, sem testemunhas. A menos que Mbappé nunca fique sozinho com uma mulher, essa fala não faz o menor sentido.
A advogada foi mais longe: disse que uma queixa não prova nada e que está se preparando para processar por difamação quem ligar o nome de seu cliente à violação sexual.
Numa nota, a equipe do jogador foi enfática na tentativa de silenciamento: "Para pôr fim a esta destruição metódica da sua imagem, serão tomadas todas as ações legais necessárias para estabelecer a verdade e perseguir cada pessoa ou meio de comunicação implicado no assédio moral e no tratamento difamatório que Mbappé sofre repetidamente".
Dias depois, porém, veículos franceses começaram a publicar que o jogador reconhece que teve, sim, relações sexuais com uma mulher em Estocolmo. Segundo o "Le Parisien", teria sido um encontro consensual — na avaliação de Mbappé.
Com informações que só poderiam ser obtidas pelo lado do atacante, o jornal afirma que mensagens trocadas por ele com uma jovem que conhecera horas antes comprovariam "a história de um encontro feliz e de uma relação consentida". Os prints já estariam sendo preparados pela defesa.
Essa nova versão desconsidera, porém, inúmeros fatores que podem levar uma vítima a ser cordial com o seu agressor — do medo à demora para reconhecer o crime que sofreram. E avança mais um passo na cartilha clássica dos acusados de estupro: negar, atacar e inverter os papéis (DARVO, na sigla em inglês).
O problema desse velho método é que a lei sueca de crimes sexuais foi atualizada em 2018, justamente para garantir que noções básicas de consentimento sejam levadas em consideração.
Na Suécia, a legislação é baseada no conceito de "voluntariedade": a capacidade de fazer uma escolha de forma livre, sem coação ou uso de força.
Os tribunais devem avaliar se o consentimento foi expresso por meio de palavras, atitudes ou de outra forma, se a vítima tinha condições de responder ou estava em situação vulnerável, e se o acusado deveria ter percebido a ausência da voluntariedade e ainda assim realizou o ato sexual. Nesse último caso, o crime é de "estupro negligente".
Não é necessário o uso de violência ou grave ameaça. As penas por violação sexual na Suécia vão de um a dez anos, a depender da gravidade do crime.
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