Por que a vitória de Donald Trump prejudica mulheres de todo o mundo
Donald Trump sempre foi honesto em ao menos um ponto: nunca escondeu o ódio e o desprezo que sente pelas mulheres.
Condenado por abuso sexual e acusado por mais de 20 mulheres de violar os seus corpos, o próximo presidente dos Estados Unidos já assumiu que "agarra mulheres pela vagina" e que as toca sem o seu consentimento.
Mas, quando duas dezenas dessas mulheres foram a público dizer que tinham sido importunadas ou estupradas por Trump, ele negou e se disse vítima de acusações falsas.
Sua compreensão sobre o consentimento parece ser um pouco falha: na reta final da última campanha presidencial, na tentativa de conquistar os votos femininos que deveriam ir para a democrata Kamala Harris, o republicano disse que protegeria as mulheres, "gostem elas ou não".
E o pior: com esse discurso, convenceu a maior parte das mulheres brancas do país a votar nele. Isso apesar de, no seu último mandato, Trump ter trabalhado para derrubar o direito nacional ao aborto seguro. E apesar de, dias antes da eleição, uma mulher de 28 anos ter morrido no Texas porque médicos negaram a ela um atendimento de emergência enquanto ela perdia um feto.
Esse é um dos riscos quando se elege um presidente misógino: aumentar o número de mortes de mulheres. Não só por questões tão práticas quanto a falta de atendimento de saúde digno, mas porque o discurso misógino legitima a violência de gênero.
Quando a maior parte de um país vota num homem contra quem pesam dezenas de acusações de crimes sexuais, o que se está dizendo é: isso não importa.
As vozes das vítimas são jogadas no lixo, descredibilizadas, inutilizadas. Não serviram pra nada, era melhor ter ficado quieta. Esse é o recado: o silenciamento, principal ferramenta para perpetuar esses crimes.
O mesmo silenciamento que é incentivado pelos que argumentam que "a pauta identitária está indo longe demais". Para alguns analistas, a eleição da extrema-direita é causada pela própria esquerda, que "insiste" no combate ao racismo, ao machismo, à transfobia, à xenofobia.
Haveria, para essas pessoas, uma espécie de esgotamento das pautas de defesa dos direitos humanos. O que esse argumento ignora é que, sem isso, uma mulher negra nem poderia se candidatar, quanto mais ter chances reais de se eleger.
Kamala perdeu o cargo, mas sua presença na corrida presidencial serviu de exemplo para toda uma geração de meninas que agora podem sonhar com isso, depois de séculos sem direito nem a ter opinião. Meninas que, em 2024, percebem a ausência de mulheres na cadeira presidencial, se incomodam e, por enquanto, têm garantido o direito de lutar contra isso.
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