Censura a jornalistas é uma das ferramentas para perpetuar abusos
Nesta semana, o UOL denunciou o caso de um médico que seguiu atuando na base do Corinthians e atendendo crianças e adolescentes enquanto era investigado e processado por pornografia infantil.
Renato Estrella, de 39 anos, é acusado de armazenar imagens e vídeos de violência sexual contra crianças. Ele ainda não foi julgado e nega o crime.
Além de dizer que provará sua inocência, a defesa de Estrella tomou outra atitude quando foi procurada pelo UOL, há cinco meses: tentou censurar o texto de Pedro Lopes e Marcos Candido. Entre julho e dezembro, conseguiu.
Os repórteres contam que concluíram o processo de apuração no dia 11 de julho e então entraram em contato com os advogados do médico, para que pudessem se pronunciar. Eles pediram dois dias para formular uma resposta — e aí acionaram a Justiça.
Uma liminar concedida no dia seguinte, 12 de julho, proibiu o UOL de publicar as informações, apoiadas em documentos do inquérito policial, notificações do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) e provas de que Estrella trabalhou em jogos de categorias de base do Corinthians.
Essa decisão só foi cassada no dia 2 dezembro. Foram cinco meses de censura, em que informações obtidas com apuração séria e cuidadosa tiveram sua publicação proibida.
Num outro caso recente, noticiado pelo Intercept Brasil, a intimidação foi ainda mais longe: a Polícia Civil de Santa Catarina exigiu que o veículo revelasse as suas fontes do caso Mariana Ferrer, publicado há quatro anos. O pedido vai contra a própria Constituição, que garante o sigilo da fonte jornalística.
Não está claro por que a exigência, que inclui "identificação detalhada das fontes" e "informações sobre como o material divulgado foi obtido", foi feita agora, mas certamente gera custos e desgaste ao Intercept e à autora da reportagem, Schirlei Alves. A jornalista é alvo de uma das maiores ofensivas de intimidação ao exercício da profissão.
Depois de denunciar as humilhações sofridas pela influenciadora Mari Ferrer, que implorou por respeito no tribunal em meio a um julgamento por estupro, Alves foi processada pelo juiz e pelo promotor presentes à audiência. Perdeu em ambos os casos. Hoje, a repórter recorre de uma condenação em primeira instância a um ano de prisão em regime aberto e R$ 400 mil de multa.
Decisões graves, que silenciam jornalistas, protegem suspeitos de agressão e colocam em risco potenciais vítimas — com o aval da Justiça.
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