'Enterramos qualquer uma': Blake Lively prova como é fácil odiar uma mulher
"É triste porque mostra que há pessoas que realmente querem odiar as mulheres."
Essa frase foi dita por uma mulher que foi contratada para destruir a reputação de outra mulher. Ela comemorava o sucesso da campanha de difamação contra a atriz Blake Lively, orquestrada pelo ator Justin Baldoni.
Protagonista e diretor do filme "É Assim que Acaba", estrelado por Lively, ele foi acusado por ela de assédio sexual, ainda durante as filmagens. Segundo uma reportagem do "New York Times", a atriz, depois de ser importunada por Baldoni e por um produtor, pediu providências à equipe e incluiu entre as exigências que não houvesse retaliação à sua denúncia.
Medidas foram tomadas para protegê-la no set, e ela continuou as filmagens. Na hora do lançamento, porém, se recusou a aparecer em eventos promocionais ao lado de seu assediador.
A principal bandeira do filme é a luta contra a violência doméstica. Enquanto Lively divulgava a produção usando vestidos florais e evitando o assunto, Baldoni abraçou a bandeira de proteção das mulheres e se firmou como grande aliado do feminismo — ele já havia se posicionado, anos antes, como um apoiador do Me Too.
Por trás do tapete vermelho, contratou uma agressiva empresa de relações públicas com um único objetivo: destruir a reputação de Blake Lively. Documentos aos quais o jornal americano teve acesso mostram que a estratégia incluía manipulação da mídia e o uso massivo das redes sociais.
A especialista em gerenciamento de crise paga por Baldoni, Melissa Nathan, garantiu a ele: "Podemos enterrar qualquer pessoa".
Ela tinha um bom currículo por trás dessa promessa: foi uma das contratadas pelo ator Johnny Depp para os ataques em série contra Amber Heard, atriz que o acusou de violência física e sexual.
Em ambos os casos, Melissa Nathan entregou o produto: suas campanhas fizeram reverberar um intenso e agressivo discurso de ódio direcionado às duas mulheres, protegendo assim a reputação dos seus pagadores.
Nem podemos dizer que o trabalho dela foi difícil. O público, como ela mesma reconheceu, está muito mais propenso a odiar as mulheres do que a acreditar na palavra delas quando denunciam um homem.
O caso Blake Lively inaugura uma terceira era do movimento Me Too. Na primeira, as mulheres tomaram coragem e se uniram para falar dos repetidos crimes contra os seus corpos, cometidos por homens poderosos da indústria de Hollywood.
Numa segunda fase, esses homens se organizaram para inverter os papéis, se colocando na posição de vítimas e fazendo crer que seriam comuns falsas acusações de assédio sexual — o que não é verdade.
Agora, as denúncias de Lively e do "New York Times" descortinam o funcionamento desse tipo de campanha de difamação, usada há décadas contra mulheres.
A febre já chegou ao Brasil. E por aqui, como lá, a tendência geral é confiar nos homens e questionar a palavra da mulher. O exemplo de Blake Lively serve para lembrar que nem sempre esse primeiro impulso é o mais correto. É bom desconfiar da própria desconfiança.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.