Robinho no Santos: times têm que parar de transformar agressores em heróis
Em pleno Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher (10/10), o Santos anunciou a contratação de Robinho —condenado em 2017 a nove anos de prisão na Itália por violência sexual, em caso que ainda cabe recurso. Ele nega tudo.
A decisão do clube causou indignação e reacendeu uma discussão recorrente em situações como essa: qual é o problema de contratar um jogador acusado ou condenado por um crime?
A primeira questão é reforçar o sentimento de impunidade em casos de violência contra a mulher.
Existe um movimento forte para encorajar as mulheres a denunciarem casos de violência —inclusive o próprio Santos lançou recentemente uma campanha falando do crescimento da violência doméstica durante a pandemia e incentivando a busca por ajuda. "Você não está sozinha", dizia o post nas redes sociais do clube.
O que muitos clubes ainda não entenderam é que o papel deles na luta pelo fim da violência contra a mulher tem que ir além do marketing. É bonito dizer "respeita as minas". É importante entrar em campo com faixas para a conscientização do público. É de grande valor distribuir posts nas redes sociais alertando contra agressões e dizendo que as mulheres não estão sozinhas. Mas é preciso muito mais do que isso.
É preciso que os clubes não transformem agressores em heróis.
O futebol mobiliza multidões de apaixonados e, naturalmente, cria ídolos. Referências. Estrelas do esporte são imitadas no corte de cabelo, nas marcas que consomem, no estilo e também na forma de se comportar. Quando um clube contrata um atleta condenado por violência sexual e o coloca em um local de destaque, passa uma mensagem clara e pública de inconsequência e irresponsabilidade.
Está se mostrando disposto a abrir espaço para que esse sujeito se torne exemplo a ser seguido por seus torcedores —e, ainda que de forma indireta, que seu comportamento violento seja reproduzido. Está se despindo de sua função social e se esquivando de suas responsabilidades cidadãs. Está, acima de tudo, desvalorizando a vida de tantas mulheres em detrimento do futebol.
Há e sempre haverá pessoas que se preocupam muito com o jogo e pouco com a humanidade. Que se angustiam com pontos em uma tabela, mas não se sensibilizam com agressão, violência doméstica, estupro ou assassinato. Essas pessoas, no entanto, não podem mais estar no comando dos principais clubes do Brasil.
O caso do goleiro Bruno, condenado pelo assassinato de Eliza Samudio, já havia iniciado essa discussão. O goleiro Jean (ex-São Paulo e atual Atlético-GO) e Dudu (ex-Palmeiras) também foram recentemente acusados de agredir suas mulheres. É importante que os clubes desenvolvam políticas de conscientização e que ajam de forma prática e incisiva caso seus atletas se envolvam em casos de violência.
O Vélez Sarsfield, tradicional clube argentino, tornou-se precursor ao criar um Departamento de Violência de Gênero, por exemplo. Na contratação de Centurión, que já havia sido acusado de agredir a ex-companheira, a diretoria incluiu uma cláusula contra violência doméstica no acordo.
O futebol não existe só dentro das quatro linhas do campo. Ele observa, interage e reage na sociedade em que está inserido —e isso está ainda mais concreto agora, durante a pandemia e com o debate político em alta. O esporte precisa ser atuante na luta por uma sociedade mais justa e democrática. Mas, acima, de tudo, não pode silenciar diante da violência e da impunidade.
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